
A Justiça de São Paulo determinou a penhora de R$ 40,4 mil das contas do pastor André Valadão, líder da Igreja Batista da Lagoinha, após ele deixar de pagar honorários ao escritório Coletta e Rodrigues Sociedade de Advogados, que representa a editora Abril.
A ordem foi assinada pelo juiz Raphael Garcia Pinto e decorre de uma ação movida pelo próprio Valadão em 2023, quando processou a revista Veja por uma reportagem intitulada “Como a Igreja comandada pelo pastor André Valadão promove a absurda cura gay”.
A Justiça rejeitou o pedido do pastor e concluiu que suas declarações permitiam a interpretação de incitação à violência contra a comunidade LGBTQIA+, decisão que foi confirmada em segunda instância e transitou em julgado.
Na ação, Valadão alegou que a matéria era “mentirosa” e negou ter feito discurso de ódio. A reportagem mencionava falas do pastor em que ele teria defendido que, “se Deus pudesse, ‘mataria tudo e começaria tudo de novo'”, além de sugerir aos fiéis que fossem “para cima” da população LGBTQIA+.
O texto também relatava a existência de um ritual de “cura gay” em retiros ligados à igreja. Ao analisar vídeos anexados ao processo, o juiz afirmou que a revista “não publicou qualquer inverdade”. Como consequência, Valadão foi condenado a pagar honorários calculados sobre o valor que ele próprio havia pedido como indenização.

Retiro para “cura gay”
Os retiros citados pela reportagem, realizados na Estância Paraíso, próxima a Belo Horizonte, duravam de três a oito dias e podiam, em 2023, custar até três mil reais. Testemunhas relataram práticas associadas à “reorientação” da sexualidade.
“Nossos retiros não são só para homossexuais, lésbicas, essas coisas, mas sempre trabalhamos a cura e a libertação interior, e muita gente sai restaurada”, disse uma atendente. Outra participante, a publicitária Cláudia Baccile, afirmou ter sido submetida a uma sessão de exorcismo e descreveu dinâmicas que retratavam a homossexualidade como “pecado extremo” e condenável à “morte eterna”.
No Ministério Clínica da Alma, braço da igreja voltado a atendimentos psicológicos, um funcionário declarou que os profissionais defendem que “o homem foi feito para a mulher, e vice-versa”. A posição contraria resoluções do Conselho Federal de Psicologia, que proíbe desde 1999 qualquer prática que trate a homossexualidade como patologia.
“Não existe psicologia cristã: ela é laica e todas as vertentes precisam obedecer às mesmas resoluções”, afirmou o presidente do conselho, Pedro Bicalho. Como o pastor não quitou o valor devido após perder o processo, a Justiça determinou o bloqueio judicial.