PUBLICADO NO BLOG DO JORNALISTA KENNEDY ALENCAR
O ministro da Economia, Paulo Guedes, colocou todos os bodes na sala na minuta de reforma da Previdência revelada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” na segunda-feira. Elaborou proposta draconiana, jogando alto porque sabe que o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso a desidratarão.
É a política como ela é.
Em termos de negociação, a jogada foi inteligente. Está na praça o texto do sonho do mercado financeiro. Guedes fala numa economia de até um R$ 1 trilhão em 10 anos ou 15 anos _a depender da proposta que Bolsonaro encaminhe ao Legislativo.
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Pediu a bola
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), posicionou-se nesta terça como o grande articulador da reforma da Previdência no Congresso.
Para respeitar o acordo com setores da minoria que votaram nele para comandar a Casa, Maia descartou a possibilidade de aproveitar a Proposta de Emenda Constitucional do governo Temer que foi aprovada em comissão especial, pronta para ser votada no plenário.
Não é o ideal para o governo, mas é bom para Maia, que disse que isso afastaria uma guerrilha parlamentar da parte da minoria. Acredite quem quiser.
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Jogando juntos
Uma ideia da dupla Maia-Guedes, que jogou afinadíssima ontem perante as câmeras, é atrair o Senado para a negociação da reforma Previdência já no começo da tramitação na Câmara. Assim, a tramitação poderia ser célere no Senado.
Mas será preciso combinar com os russos. O processo de disputa pelo comando do Senado deixou feridas que precisam ser curadas.
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Justiça social deve ser prioridade
Se realmente combater privilégios das altas carreiras do funcionalismo (magistrados, procuradores e militares, por exemplo), Guedes terá chance de apresentar boa reforma. Trabalhadores liberais que se aposentam mais cedo e com melhores benefícios no regime do INSS também devem dar a sua cota de sacrifício.
Exceções deveriam ser feitas apenas para preservar os mais pobres. Militares deveriam ter as mesmas regras que demais servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada.
As excepcionalidades que existem hoje beneficiam uma elite sem compromisso com o país. É um regime previdenciário que funciona como uma fábrica de desigualdades e uma máquina de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos, como corretamente disse Guedes.
Maia tem razão ao sugerir que o povo se revoltaria se entendesse como esse regime de privilégios da elite é danoso aos mais pobres e às futuras gerações.