Paulo Skaf e a FIESP, hoje com Bolsonaro, elogiaram o Porto de Mariel em Cuba

Atualizado em 6 de março de 2020 às 13:01
Bolsonaro e Skaf brindam em jantar na China, em outubro passado – Isac Nóbrega/PR

Jair Bolsonaro não é só um homem truculento e despreparado para atividades complexas, como presidir a república. Ele é incapaz de aprender.

Hoje resolveu atacar a jornalista Patrícia Campos Mello por texto que ela escreveu em dezembro de 2014, sobre o acerto do Brasil de financiar a construção do Porto de Mariel, em Cuba.

“Você sabe quem é essa jornalista, tão defendida por seus pares?”, tuitou, acima do texto resgatado, que provavelmente lhe foi entregue por algum integrante dos gabinetes do ódio.

Patrícia já tinha sido insultada pelo presidente da república em razão das reportagens que fez sobre os disparos em massa, via  WhatsApp, de fake news que impulsionaram a sua candidatura em 2018.

“Ela queria dar o furo”, disse ele, diante de seus seguidores, que riram gostosamente.

Se Bolsonaro estivesse interessado em presidir a república e não se comportar como chefe de gangue, poderia buscar informações sobre a importância do investimento em Cuba.

E para isso, ele não precisaria recorrer à jornalista ou a algum ministro de Lula e Dilma, em cujo governo a obra foi feita.

Poderia perguntar ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf, seu mais recente aliado, praticamente um dos chefes do movimento que articula em São Paulo a criação do novo Partido de Bolsonaro, o 38, também chamado de Aliança.

Bolsonaro esteve com Skaf ontem, num evento em que, oficialmente, se destinava a lançar o Conselho Superior Diálogo pelo Brasil.

Como empresário e presidente da Fiesp, Skaf tinha a mesma opinião de Patrícia Campos Mello. E não há razão objetiva para que tenha mudado de ideia.

Em maio de 2015, ao receber a visita do ministro de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro de Cuba, Rodrigo Malmierca, o presidente da Fiesp elogiou o investimento no porto de Mariel.

O jornal O Estado de S. Paulo noticiou o encontro:

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, concordou que o porto de Mariel abre possibilidades muito grandes de investimento e disse que ele particularmente já tem estudado alternativas no país. “Eu mesmo, como empresário, estudo alternativas para investimento em Cuba”, disse, sem dar detalhes. “Ainda não há nada concreto. É preciso ser avaliado com cautela”, ponderou.

Skaf destacou que Cuba “passa movimento especial de transformação e abertura”. “As relações de Cuba com os EUA avançaram e tendem a avançar muito mais”, afirmou, referindo-se ao fim do bloqueio econômico norte-americano anunciado no final do ano passado, após 50 anos de existência.

(…)

Ao final da reunião, Skaf informou ao ministro cubano que vai organizar por meio da Fiesp uma missão de empresários brasileiros para Cuba. Questionado se o recado da Fiesp era “vá pra Cuba”, ele disse: “Não. A mensagem é preste atenção em relação a Cuba e as oportunidades que Cuba pode oferecer”, completou.

Ao encontrar Skaf, Bolsonaro poderia ter perguntado a ele sobre Cuba. A reunião, aliás, era sobre Diálogo pelo Brasil.

E Diálogo pelo Brasil pressupõe um comportamento sereno. Mas quem disse que Bolsonaro está interessado em diálogo ou serenidade?

Ele quer continuar sendo um típico chefe de gangue — ou de milícia —, que insulta e ofende pessoas que considera adversárias diante de seus seguidores, estejam eles no Alvorada ou na rede social.