Pelo WhatsApp, fazendeiros organizam ataques a indígenas, queimadas e golpes

Atualizado em 24 de janeiro de 2024 às 21:48
Pelo WhatsApp, fazendeiros organizam ataques a indígenas, queimadas e golpes. Foto: Divulgação

Por Leonardo Sakamoto

O assassinato da indígena Maria de Fátima Muniz, conhecida como Nega Pataxó, e a tentativa de homicídio de seu irmão, o cacique Nailton Muniz, no último domingo (21), no Sul da Bahia, reforçam o papel do WhatsApp para o cometimento de crimes de fazendeiros organizados em milícias rurais.

O Ministério dos Povos Indígenas afirmou que cerca de 200 desses criminosos, entre produtores rurais e comerciantes, se organizaram usando uma plataforma para tramar um ataque ao acampamento do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe a fim de retomar a área com as próprias mãos. Ou seja, sem decisão judicial, o que é ilegal. O Movimento Invasão Zero convocou o ataque.

Ainda é necessário esclarecer se a polícia garantiu a segurança aos milicianos, comprovadamente com o crime através de sua inação ou foi incompetente por não ter impedido. Tanto o Ministério Público Federal quanto as Defensorias Públicas do Estado e da União apontam que a ação pode ter contado com a participação de policiais.

Em dezembro, o cacique Lucas Pataxó também foi assassinado. Segundo a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), ao longo de uma década anos 29 indígenas Pataxó Ha-Hã-Hãe foram mortos “devido à morosidade na demarcação e homologação das terras indígenas”.

Essa violência organizada por via digital não é novidade, nem monopólio da Bahia. Por exemplo, em 2016, um indígena morreu e outros seis ficaram feridos no que ficou conhecido como o Massacre de Caarapó, no Mato Grosso do Sul. Segundo o Ministério Público Federal, os fazendeiros se organizaram via WhatsApp e executaram um ataque à comunidade Tey’i Kue em 14 de junho daquele ano. Teriam participado cerca de 40 caminhonetes, com três pás carregadeiras e mais de 100 pessoas, muitas delas armadas.

O objetivo seria retirar um grupo de 40 indígenas Guarani-Kaiowá de uma propriedade cultivada por contra própria. O ataque ocorreu após uma publicação, pelo governo federal, de um relatório antropológico que reconhecia os direitos desses povos sobre uma área onde estavam produtores.

fazendeiros durante os ataques ao povo indígena Pataxó Hã-Hã-Hãe. Foto: Reprodução

A ação armada resultou na morte do indígena Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, que era agente de saúde, com um tiro no abdômen e outro no tórax. Outros seis, inclusive uma criança de 12 anos, foram atingidos por tiros e ficaram gravemente feridos.

O MPF denunciou Virgílio Mettifogo, Nelson Buaianin Filho, Jesus Camacho, Dionei Guedin e Eduardo Yoshio Tomonaga ainda em 2016, e eles ficaram um tempo presos. Respondem, agora, em liberdade, pelos crimes de formação de milícia armada, homicídio qualificado, tentativa de homicídio qualificado, dano qualificado e constrangimento ilegal. A 1ª Vara da Justiça Federal em Dourados decidiu que os cinco serão levados ao Tribunal do Júri por conta do crime.

O mesmo modus operandi usado contra indígenas também é empregado no ataque ao meio ambiente.

O Dia do Fogo, quando fazendeiros do Pará combinaram de atear fogo na Amazônia, em 2019, por exemplo, foi organizado pelo WhatsApp. Nos dias 10 e 11 de agosto daquele ano, os sistemas de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectaram 1.457 focos de incêndio no estado, 2.000% a mais em relação ao ano anterior.

E, claro, na investida contra a democracia. Produtores rurais foram apontados como financiadores de bloqueios de rodovias e acampamentos de bolsonaristas que defendiam um militar, primeiro para impedir que Lula chegasse ao poder após ter vencido as eleições, depois para derrubá-lo do cargo e devolver Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

Depois, apareceu como tendo ajudado o banco a ida de militantes de extrema direita em Brasília para a fracassada tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro, que terminou com a invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.

Investigação da Repórter Brasil, publicada em janeiro do ano passado, aponta que o PIX de uma loja de informática do Sul do Pará era divulgado por pecuaristas da região via WhatsApp a fim de arrecadar recursos para os acampamentos golpistas no estado e na capital federal. Lembrando que o núcleo de Brasília foi usado como base para queima de ônibus e carros, plantar uma bomba a fim de destruir o aeroporto e atacar as sedes dos Três Poderes.

Originalmente publicado no UOL

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