Notas sobre o perfil do bolsonarista. Por Rudá Ricci

Atualizado em 14 de dezembro de 2021 às 9:38
Veja Bolsonaro
Em frente ao quartel, promovendo aglomeração

O cientista político Rudá Ricci traça o perfil do bolsonarista médio. E faz considerações interessantes. Entenda mais sobre esse assunto.

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O perfil do bolsonarista

Farei um breve resumo sobre as informações que temos sobre o perfil do bolsonarista a partir dos dados recentes. Trabalhei esses dados na live do DCM do domingo (tendo como convidado João Feres Jr) e live de segunda do Instituto Cultiva a partir de um conjunto de pesquisas quantitativas e qualitativas:

1) Existem dois tipos de bolsonaristas: o raiz e o arrependido. Mas, ambos têm, em média, ensino médio (incompleto e/ou completo) e renda média (classe média baixa). São homens brancos, na sua maioria;

2) A variável mais consistente (que se relaciona com maior frequência com o voto em Bolsonaro) é a religião, além da instrução. Bolsonarista é, muitas vezes, evangélico, membro de uma rede social militante, que fica no ouvido o dia todo e se torna objeto de doutrinação;

3) Não por outro motivo que a família (a tradicional, composta por pai, mãe e filhos) aparece como central no seu imaginário. Trata-se de uma família idealizada, uma busca (como a busca da Terra Prometida);

4) A família, em especial a mãe, é um esteio para a redenção, a expiação dos pecados. Que faz a ponte para a participação nas igrejas. A mãe é compreendida como aquela que define a noção de respeito e dignidade. Fonte de apoio permanente e acolhida;

5) Pela mãe (e igreja), todos erros e pecados que o bolsonarista cometer são depurados. Como ela é o esteio da correção e unidade familiar, a noção de ordem social advém desta relação subjetiva com a família. Em suma: família = mãe = ordem = reintegração social (e sucesso pessoal);

6) O sucesso pessoal, então, é recompensa divina que tem na mãe seu instrumento. Complicado, não? Se há proximidade com a mãe, estará mais próximo da redenção, da absolvição e, portanto, da recompensa;

7) A esquerda, e especial, o PT, entram neste ponto: insistem em dar aula de sexualidade para crianças nas escolas, deteriorando o respeito familiar e conspurcando contra a figura sagrada da mãe;

8) Outro elemento do ideário do bolsonarista raiz é o espírito de vira-lata. Para eles, o Brasil é um país desqualificado. Daí o ideal que os EUA representam para esse segmento. E, se os EUA são tão bons, suas leis e costumes são melhores que os nossos: caso do porte de armas;

9) Se o porte de armas e a ordem são irmãos-gêmeos para os bolsonaristas, o golpe militar não é. Uma minoria bolsonarista apoia a volta do regime militar. Mas, defendem a participação das FFAA no governo. Aqui tem uma relação com o pensamento conservador – que está vinculado à noção de ordem: conservador não gosta de agitação, de reacionarismos, de arroubos. Defende a ordem para pode revelar o quanto é bom trabalhador. Com agitação, o país revira de cabeça para baixo, impedindo sua carreira de sucesso (ao menos, é sua esperança);

10) O bolsonarismo raiz é, enfim, confuso, contraditório e parece uma esponja que acolhe muitas teorias e fontes de informação. Trata-se da tal cultura “fuzzy”.

11) Por esse motivo, o bolsonarismo está mais para o fascismo que para o nazismo. Fascismo é permutável, ou seja, troca valores com outras forças e doutrinas com certa facilidade. O nazismo não, é impermeável e excludente. O fascismo é debochado, como o bolsonarismo;

12) Para terminar, o bolsonarista arrependido. Surpreendentemente, muitos são progressistas e alguns até se definem como de esquerda. Dizem que avaliaram que era hora do “PT dar um tempo” e que o cachimbo já estava entortando a boca dos petistas;

13) O arrependido percebeu o erro com poucos meses da posse de Jair. E está tão arrependido que diz que fará campanha para Lula em 2022. Perguntei para João Feres se este arrependido pode abrir a porteira e atrair mais bolsonaristas sem convicção. Resposta: cada vez mais difícil. Estamos chegando no “núcleo duro” do bolsonarismo raiz.

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Rudá Ricci
Cientista político formado em Ciências Sociais pela PUC-SP, com mestrado em Ciência Política pela Unicamp. Doutor em Ciências Sociais pela mesma instituição. Presidente do Instituto Cultiva em Minas Gerais