Pesquisas erraram feio nos EUA, mas não perdi a esperança de ver a derrota de Belzebu. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 4 de novembro de 2020 às 12:05

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Eleitora faz voto antecipado em Tulsa, no estado de Oklahoma
Nick Oxford / Reuters – 30.10.2020

Por Luis Felipe Miguel

As pesquisas erraram feio, de novo. Embora até o momento, a acreditar nos sites que venho acompanhando, Biden tenha mais votos assegurados, a tendência dos estados faltantes é pró-Trump.

Só não perco completamente a esperança por causa da declaração de vitória antecipada e tentativa de melar o resto da apuração do Belzebu alaranjado. Se ele decidiu fazer esse movimento, é porque realmente os votos antecipados da Pensilvânia e de Michigan podem inverter o cenário.
Mesmo que Biden ganhe, o que honestamente no momento me parece improvável, será por uma margem de poucos votos no colégio eleitoral. E a vantagem na votação popular é bem menos dilatada do que o previsto.
Não são só as bizarrices do sistema eleitoral estadunidense. O fato é que até agora (quarta-feira, 4 de novembro, às 8:30, horário de Brasília) já foram contados quase 67 milhões de votos para um candidato à reeleição que, ao longo de seu mandato, provou, para além de qualquer dúvida, ser despreparado, instável, desonesto, caricato, agressivo e genocida.
Aqui no Brasil podemos testemunhar que essa não é uma patologia exclusiva dos Estados Unidos.
Tenho dito que as novas tecnologias da comunicação destruíram as condições de sobrevivência da democracia limitada que imperou no Ocidente nas últimas décadas.
Era um modelo baseado na ideia de que a participação política mínima de um eleitorado dispondo de informação política mínima seria capaz, ainda assim, de gerar resultados minimamente razoáveis.
Em suma: eu não tinha grande interesse na política, não estava particularmente bem informado, mas mesmo assim escolhia um governo capaz de governar – talvez não em favor dos meus melhores interesses, mas ainda assim com alguma racionalidade e coerência.
Os novos fluxos de informação – na verdade, de desinformação – desorganizam isso. Ressentimento, ódio e teorias de conspiração se tornam os insumos para escolhas políticas cada vez mais descoladas de qualquer referência à realidade.
Para sobreviver, a democracia vai ter que se aprofundar. É preciso mais educação política, portanto mais possibilidades de participação e mais informação plural de qualidade (o que exige, com certeza, um fortíssimo embate com os gigantes da internet).

O problema, claro, é que essa democracia aprofundada coloca em risco a reprodução das formas de dominação social. Por isso, muitos dos que se dizem horrorizados com Trump, Bolsonaro e quetais são tão reticentes a adotar medidas que de fato contribuam para gerar um ambiente político em que eles não se criem.