PF diz que Abin de Bolsonaro monitorou jantar de deputados e tentou ocultar registros

Atualizado em 5 de março de 2024 às 8:00
A sede da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) — Foto: reprodução

A investigação da Polícia Federal (PF) envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) encontrou indícios de que a estrutura paralela que atuava durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) incluía pedidos pelo WhatsApp para seguir parlamentares e tentativa de ocultar registros de operação, conforme informações do jornal O Globo.

Em março de 2020, o então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, enviou uma mensagem a um subordinado, informando sobre um jantar entre Rodrigo Maia, à época presidente da Câmara, a ex-deputada federal Joice Hasselmann e Antônio Rueda, atual presidente do União Brasil.

“Jantar no Rueda ontem entre o Próprio, Joice e Rod Maia (…) Chegou com um cidadão com pasta de documento na mão…ficou 29min e saiu”, diz o texto enviado por Ramagem via WhatsApp, pedindo para checar a placa de um carro.

Após análise dos dados do veículo, um integrante da Abin identificou que pertencia à PF e era utilizado pelo então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres.

O veículo foi inclusive fotografado pelo agente da agência. Vale destacar que naquele período, Maia e Joice eram conhecidos por suas críticas públicas ao ex-capitão, especialmente em relação à gestão da pandemia de Covid-19.

A mensagem, que continha informações sobre o monitoramento de parlamentares, foi impressa na sede da Abin pelo policial federal Felipe Arlotta, cedido à agência a pedido de Ramagem. Recentemente, a Controladoria-Geral da União (CGU), que investiga supostos desvios de conduta de servidores públicos na Abin, recuperou esse arquivo.

Além disso, a PF descobriu a existência de um relatório informal denominado “diligências Lago Sul”, contendo fotos do veículo utilizado por Torres, corroborando a existência da operação paralela.

Maia disse que não se recorda detalhadamente do conteúdo da reunião, mas relatou que, na ocasião, Anderson Torres buscava apoio para sua indicação ao cargo de ministro da Justiça. Torres, posteriormente, assumiu a posição pouco mais de um ano depois, em março de 2021. Por sua vez, Joice afirmou que, durante o jantar, discutiam a fusão do PSL, partido então liderado por Bolsonaro, com o DEM, partido de Maia.

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Joice Hasselmann e Rodrigo Maia. Foto: reprodução

A investigação conduzida pela PF revelou ainda que membros da Abin ligados a Ramagem expressaram preocupação com a falta de registros de algumas operações no sistema interno da agência. Uma dessas operações envolvia Jair Renan Bolsonaro, filho “04” do ex-mandatário.

Na época, a PF investigava suspeitas de tráfico de influência após a revelação pela revista Veja de que Jair Renan e seu personal trainer intermediaram uma reunião de negócios entre empresários e membros do governo Bolsonaro.

Sob o comando de Ramagem, a Abin começou a monitorar o ex-personal trainer na tentativa de desviar a atenção da investigação da PF sobre o filho de Bolsonaro. Um membro da agência até tirou fotos do estacionamento do prédio onde o ex-parceiro de negócios de Jair Renan morava. Essa ação foi flagrada pela Polícia Militar do Distrito Federal.

Em vez de encaminhar o relatório da operação diretamente para Ramagem, o agente da PF cedido à Abin incluiu a descrição da vigilância no sistema da agência. Por um descuido, o arquivo, datado de 17 de março de 2021, ficou acessível a outros servidores do órgão.

Durante seu depoimento, uma oficial da Abin relatou ter recebido uma ligação de alguém do gabinete da diretoria-geral da agência, sob o comando de Ramagem, solicitando que “dessem um jeito” de “retirar o documento” ou “limitar seu acesso” no sistema interno da organização. No entanto, a servidora afirmou que não tinha como agir, uma vez que outras pessoas já tinham tido acesso ao relatório.

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