Pistoia reverencia quem lutou contra o fascismo, não quem se alinha a ele

Atualizado em 2 de novembro de 2021 às 19:10
Pistoia Bolsonaro
Protestos contra Bolsonaro foram fortes na Itália

Por Katia Fitermann, de Pistoia, Itália

Hoje, 2 de novembro, dia dedicado aos mortos, Jair Bolsonaro chegou à cidade de Pistoia, após inúmeras mudanças de programa de última hora, para visitar o cemitério brasileiro de San Rocco, onde se encontra o monumento em homenagem ao militares da Força Expedicionária Brasileira (FEB), mortos durante a Segunda Guerra Mundial. A FEB foi uma das forças aliadas contra o nazifascismo. Combateu o exército de Hitler e de Mussolini nas montanhas pistoieses, mas nenhuma personalidade politica ou religiosa local se dignou a receber Bolsonaro. O presidente da região Toscana, Eugenio Gianni, o governador Gerlando Iorio e o prefeito da cidade de Pistoia, Alessandro Tomasi, não deram o ar da graça.

Também o bispo da Diocese de Pistoia, monsenhor Fausto Tardelli, não oficializou a cerimônia nem se manifestou oficialmente sobre presença de Jair Bolsonaro na cidade. A indignação do mundo católico também foi confirmada em uma longa declaração conjunta assinada pela Caritas de Pistoia e Pescia e mais uma dezena de associações religiosas, além de varios sindicatos locais

“Prestar homenagem aos soldados brasileiros mortos e fortalecer os laços de proximidade entre os povos é um gesto importante, mas sentimos que é nosso dever lembrar e denunciar que o presidente Bolsonaro legitimou e incentivou o assalto aos recursos ambientais de seu país, sem nenhuma considerção pelos povos indígenas, demonstrando ser o portador de uma visão obscurantista e repressiva em matéria de direitos civis, com o uso da violência de grupos paramilitares. Essa é uma oportunidade de nos expressarmos em solidariedade ao povo brasileiro, exausto por tanto sofrimento e de exigir a mais veemente condenação às diretrizes de seu governo, que oprime os mais pobres e frágeis do país e ofende a memória dos brasileiros que morreram na Europa pela solidariedade e o sacrificio extremo deles à luta de libertação ”, diz o comunicado assinado por vários segmentos da sociedade toscana.

Apenas o líder de extrema-direita Matteo Salvini quis encontrar o presidente do Brasil. “Estou feliz e orgulhoso de homenagear os brasileiros mortos durante a Segunda Guerra Mundial, junto com o presidente Bolsonaro. Eles deram uma contribuição importante para a libertação da ocupação nazifascista. Para mim, é uma oportunidade de reafirmar uma profunda amizade que une Itália e Brasil. Gostaria de agradecer a Bolsonaro pelo empenho e a seriedade em nos trazer o terrorista comunista Cesare Battisti de volta à Itália, em 2019”, disse Salvini, em ao falar com a imprensa.

Na praça de Sé, em Pistoia , um grupo de aproximadamente 200 manifestantes fez barulho gritando “Fora Bolsonaro” e “Bolsonaro genocida e ecocida”. Lá, várias instituições se encontraram para pedir o fim do mandato de Bolsonaro e se preparar para a justa homenagem que fazem, anualmente, aos pracinhas da FEB, logo depois de o presidente deixar Pistoia em direçao à Pisa, onde foi visitar a famosa torre inclinada.

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“Esta manhã foi um momento institucional ao qual queríamos dar um corte político. A nossa solenidade nesse momento é muito mais significativa, porque sai do coração do povo”, disse Mário Pereira. Ele é guardião do santuário e filho de um veterano da Força Expedicionária Brasileira.

Depois da saída de Bolsonaro, veio a chuva e foi possível sentir o ar fresco e outonal, justamente quando um dos manifestantes, chamou atençao das pessoas à imagem de um arco-íris, bem proximo ao lugar onde 462 brasileiros foram sepultados em honra à luta contra o nazifascismo na terra que ajudaram a libertar.

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