Polícias no Brasil foram ensinadas a executar pessoas, afirma pesquisadora

Atualizado em 5 de junho de 2022 às 15:39
Para a pesquisadora Ariadne Natal, a violência policial é estimulada para servir como plataforma eleitoral

Em entrevista à BBC News, a pesquisadora Ariadne Natal, do Peace Research Institute Frankfurt, da Alemanha, falou sobre o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, morto por asfixia por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), e afirmou que as polícias brasileiras possuem problemas estruturais.

Falta de treinamento, controle e tolerância, além de estímulo a abusos e a violência policial como plataforma eleitoral são apenas algumas das questões apontadas por ela.

De acordo com Ariadne, que já atuou no Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da USP, e hoje faz pós-doutorado sobre violência policial pelo instituto alemão, as corporações não oferecem nenhum tipo de treinamento para lidar com conflitos envolvendo cidadãos comuns.

“As polícias no Brasil não foram treinadas com a ideia de proteger o cidadão, de tratá-lo com respeito, de saber conversar, de criar vínculos com a comunidade. A sociedade não tem relação de proximidade com a polícia. A verdade é que a sociedade não confia em quem deveria protegê-la”, afirma a pesquisadora.

“Os policiais são treinados para ver o crime em qualquer lugar, para sempre tentar encontrar um criminoso a qualquer custo, para o confronto armado. O policial é a ponta de um sistema direcionado para executar pessoas”, acrescenta.

Desde 2013, o número de mortes em decorrência de intervenções policiais no país obteve um crescimento de cerca de 190%, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Somente no ano de 2020, o Brasil registrou 6.416 vítimas fatais de intervenções de policiais civis e militares da ativa, em serviço ou fora dele.

“A falta de treinamento pode levar a excessos e imprudência. O uso da força precisa ser proporcional ao risco enfrentado pelo policial. No caso Genivaldo, os agentes estavam em maior número, tinham recursos e a vítima estava controlada. Não dá nem para chamar de procedimento. Claro, falta de treinamento não é a única explicação para o problema: há violências deliberadas, também”, diz Ariadne.