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Por que Alckmin é o melhor vice para Lula. Por José Cássio

Foto: Ricardo Stuckert/Imprensa Oficial de Luiz Inácio Lula da Silva/AFP

No inicio de 2020, quando Bruno Covas aceitou o apoio de Marta Suplicy na sua tentativa de se reeleger prefeito de São Paulo eu não fui o único cético: no PSDB, partido do então prefeito, a reação foi grande.

Marta era tudo o que os militantes não queriam nas fileiras do partido: ex-petista, ex-golpista, ex-aliada de Temer e, ainda por cima, chata.

Bruno estava certo e a militância, errada. Por um motivo muito simples: como um torcedor apaixonado, o militante deixa a razão de lado para pensar com o coração.

Sob esse prisma, era mesmo inaceitável acolher a mulher.

Só que Bruno e seus estrategistas colocaram a razão na frente do coração: o que a ex-prefeita poderia agregar na campanha, especialmente no movimento popular, um setor em que ela sempre transitou bem, e Bruno, mal?

Muito é a resposta correta. Marta levou a mensagem de Bruno aos grotões, da zona Sul à Leste.

Falou com a comunidade, com quem, goste-se ou não dela, transita com desenvoltura. Resultado: o tucano venceu Guilherme Boulos no 2o turno em 50 das 52 zonas eleitorais da capital.

Marta hoje, secretária de Relações Internacionais, é a principal figura do governo apagado de Ricardo Nunes, vice que tomou posse após a morte prematura de Bruno.

É a figura de Marta que me vem à mente diante da polêmica em torno de Alckmin. O ex-governador de São Paulo, traído por João Doria e fora do PSDB, é cotado para integrar o cargo de vice na chapa de Lula.

Não demorou para surgir quem se posicionasse contra: Rui Falcão, cardeal petista, chegou a dizer que o ex-presidente não precisa de muleta eleitoral.

Um militante, presidente do diretório do Butantã, organizou um abaixo-assinado contra a iniciativa. Teve quem alegou que Geraldo faria com Lula o mesmo que Temer fez com Dilma – usaria o cargo de vice para tramar contra o petista, dar um novo golpe de Estado e usurpar a presidência.

Antes de entrar no mérito da capacidade de Alckmin de agregar apoios a Lula é preciso fazer justiça: golpista ele não é. Muito menos corrupto contumaz como Temer.

Se o golpe contra Dilma ocorreu em 2016, em nenhum momento se pode dizer que Alckmin teve papel destacado. Verdade que, na posição de adversário da ex-presidente, não moveu uma palha em nome da verdade e do espírito público.

Jogo é jogo, treino é treino

Geraldo se omitiu – talvez até tenha torcido mesmo pelo sucesso da empreitada que acabou se concretizando e jogou o país no colo do fascismo.

Outra suspeita que os críticos espalham é de que ele seria um infiltrado das elites, ou do poder econômico, na administração de Lula.

Pura bobagem: infiltrado como? Se ele não é golpista como Temer, nem traíra como Doria, o que poderia fazer? Uma autodenúncia contra seu próprio governo?

Imaginação tem limite. Há momentos em que é preciso por a bola no chão, respirar fundo e acreditar que o técnico sabe o que está fazendo. Torcedor é torcedor. Vê o jogo da arquibancada e tem todo o direito de dar o seu palpite.

Porém, não sabe o que ocorreu na madrugada antes da partida decisiva. Quem pode lhe garantir que o craque do time não teve uma dor de barriga – lembra a convulsão de Ronaldo Fenômeno antes da final contra a França na Copa do Mundo de Paris, em 1998?

Leio aqui no DCM que o ex-ministro José Dirceu vê com simpatia a presença de Geraldo na chapa de Lula. Não só do ponto de vista eleitoral. Dirceu acredita que o ex-tucano pode mesmo colaborar no dia a dia do governo, tornando as coisas mais fáceis para Lula.

Está certo. Tem experiência e conhece política por fora e por dentro. Primeiro sabe que é gritante a diferença entre o ex-tucano e Temer – e isso já espanta o fantasma do golpe.

Depois, sabe que, muito diferente do golpista, Geraldo não vai ocupar seu tempo na vice-presidência atrás de propina.

Sei o que Geraldo espera dessa aproximação com Lula: ele vê na vaga de vice um bom espaço para trabalhar por quatro anos. Depois, abandonado pelo PSDB, e burro ele não é, sabe que o Brasil está diante de um impasse que tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro, o genocida do qual o país precisa se libertar.

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Essa é uma realidade tão evidente que, meses atrás, o próprio Fernando Henrique Cardoso, colega de Alckmin, reuniu-se com Lula e afirmou que votaria sem medo no ex-presidente se diante dele num eventual 2o turno estivesse Bolsonaro.

FHC não disse isso para agradar, tampouco para garantir algum interesse pessoal.

Disse porque tem consciência de que o movimento que apoiou e que resultou na queda de Dilma e na ascensão do fascismo resultou em furo n´água: o povo empobreceu, centenas de milhares morreram na pandemia e, jogado às traças, o país caminha célere para a ruína.

A quem interessa Bolsonaro? Basta ter um mínimo de espírito público para dizer que só interessa a Queiroz (ele quer ser candidato a deputado federal) e os milicianos que seguem o genocida.

Se todos esses argumentos não forem suficientes, há outros na defesa da aproximação de Lula com o ex-governador: ela abre uma avenida para que Fernando Haddad (seguramente o quadro mais qualificado do país na atualidade) dispute em condições de vencer o governo de São Paulo.

Alckmin vai ajudar eleitoralmente Lula e Haddad. Vai agregar, como ensina Dirceu.

Se Marta agregou, e não foi pouco, na campanha de Bruno Covas, por ter sido prefeita e com bons serviços prestados aos paulistanos, o mesmo vale para Geraldo.

Defeitos todo mundo tem. Mas que o PT não se deixe envolver por conversa de arquibancada. ‘Treino é treino e jogo é jogo’, já dizia o grande Eli Coimbra.

Geraldo é o cara.

Jose Cassio

JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo

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