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Por que o Arnaldo Baptista não gosta do Alice Cooper

Numa entrevista com o gênio dos Mutantes, tiro velhas dúvidas e, de quebra, faço um dueto

Arnaldo com Rita nos Mutantes

DE JUIZ DE FORA

Uma das coisas boas de você entrevistar um herói seu é poder tirar algumas dúvidas que sempre teve.

Foi o que aconteceu comigo no encontro com Arnaldo Baptista, dos Mutantes. Minha faixa favorita de Loki é “Será que eu vou virar bolor?”, um misto de balada e rock’n’roll. Num determinado momento, Arnaldo fala: “Não gosto do Alice Cooper, onde é que está meu rock”n roll?”

Pois é.

Que está fazendo o Alice Cooper, conjunto aliás do qual gostei na adolescência, na música?

Perguntei a quem devia: Arnaldo, autor da música e da letra. Estávamos sentados numas cadeiras no lado de fora do sítio em que ele mora parte do tempo, em Juiz de Fora. (A outra parte é vivida num apartamento em Belo Horizonte.) Perto de nós está uma espécie de escultura que Arnaldo fez com o tronco de uma árvore. É um rosto, cujas orelhas são CDs. Ele não fala CD, aliás. Discos são “LPs”, de Long Play, como eram conhecidos os discos de vinil. Arnaldo está fumando um Free. Se não fumar pode chegar a 100, ele comenta. Fumando, a 80. “Tá bom, não tá?” Ele tem 61. Está fisicamente muito bem. Vegetariano,  tem uma rotina medida em papeizinhos de flexões. Está no peso ideal. Come pouco, exceto doces.

Sugiro que o resto do texto seja lido ouvindo a música de que estou falando.

“E então, Arnaldo, por que o Alice Cooper?”

“Por causa da Rita, Paulo”, ele me diz.

Rita é Rita Lee, a primeira namorada, a primeira paixão, a primeira amante, a primeira tudo de Arnaldo. No inícios dos anos 70, o Alice Cooper veio tocar no Brasil. Fui assistir. Um integrante da trupê da banda fez sucesso com Rita Lee, conta Arnaldo.  Arnaldo era totalmente apaixonado por ela naquele momento. Daí o “Alice Cooper” da grande canção. A banda se deu bem em São Paulo. A atual Monja Cohen, aliás prima de Arnaldo Baptista, era, na época, uma tiete. Conquistou um integrante do Alice Cooper e foi embora com ele para os Estados Unidos.

Hoje Arnaldo ri da traição.

Mas sei que estou ali diante de um homem que sofreu loucamente por uma mulher.

Este texto foi publicado no Diário do Centro do Mundo em 27 de outubro de 2010.

Arnaldo e eu

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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