Em Londres, logo sucumbi à gritaria do The Voice.
Vocês podem imaginar o que é Tom Jones no comando do programa.
Mesmo com o padrão BBC de qualidade, não aguentei. Os candidatos tinham que berrar para sobreviver.
Piaf não passaria nem pela triagem. João Gilberto seria enxotado de cara.
Vi que no Brasil o programa é a coisa da Globo que mais funcionou em 2013. Talvez a única. Tudo na Globo despenca em audiência, das novelas ao Jornal Nacional, mas o The Voice foi uma exceção. Tem cerca de 28 pontos no Ibope, o que para a Globo 2013, dos espectadores minguantes, é uma façanha.
Tentei entender. Aleatoriamente, vi na internet cenas do programa.
E enxerguei o óbvio: o The Voice Brasil é melhor que o inglês porque o repertório escolhido é melhor.
E porque os participantes gritam menos. Em alguns casos, não gritam, ou quase não gritam.
Tive talvez a sorte de ver, de cara, a cantora Lucy Alves. Não é todo dia que você vê alguém com uma sanfona. Paraibana, com o sotaque nordestino preservado, 27 anos, ela cantou “Qui nem Jiló”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
Isto é Brasil, e eu gosto.
Bonita, doce, respeitou a natureza suave da música.
Gostei de Carlinhos Brown. Imediatamente, ao ouvir a sanfona, apertou o botão que faz virar a cadeira e simboliza a aprovação.
Viajei no tempo, também, ao ouvir um candidato cantar BR3, uma belíssima música de minha juventude. E da de Lulu Santos, que chorou ao ouvi-la.
Por incrível que pareça, mesmo se tratando de versões compactas, o excelente cantor conseguiu esquecer um pedaço de letra, e acabou eliminado.
No YouTube, achei algumas coisas. Duro é ver no site da Globo.
Você percebe lá como o lado comercial comanda tudo na emissora, e como isso vai acabar lhe custando caro na internet por contrariar a cultura dos internautas.
No YouTube, você pode eliminar a propaganda depois de cinco segundos. Na Globo, você é obrigado a engolir o comercial inteiro de 30 segundos.
Muitos internautas devem estar abominando a Red Bull por causa disso. Você não consegue ir de uma música a outra sem ver o mesmo comercial.
É o jeito Globo de ser, em sua volúpia monstruosa por moedas, e imagino que os próprios anunciantes vão perceber quanto isso é negativo na internet.
Mas do programa gostei – não o suficiente, é verdade, para assistir nas noites de quinta.
Mas entendi por que, entre tantas más notícias no Ibope para a Globo, o The Voice vai bem.
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