Percorro “Os Pensamentos”, de Blaise Pascal, um livro caoticamente sublime. O grande crítico francês Saint-Beuve definiu “Os Pensamentos” como “uma na qual as as pedras foram postas umas sobre as outras, mas não cimentadas, e cuja estrutura ficou inacabada”. Pascal morreu aos 39 anos, em 1641, antes de poder dar forma final à sua formidável “torre”, cujo objetivo maior era a defesa do cristianismo. (É nela que está a frase citadíssima segundo a qual o coração tem razões que a razão desconhece.)
A morte veio cedo para Pascal, colosso não só das letras mas da matemática e da física. Mas ele teve tempo suficiente para inaugurar a prosa francesa tal como a conhecemos hoje. Frases simples, profundas, cortantes, encadeadas com lógica matemática e paixão.
A edição que leio gratuitamente no iBooks tem um brinde, um prefácio do poeta, crítico e dramaturgo americano TS Eliot. “Pascal é um escritor que será lido e estudado pelos homens a cada geração”, escreveu Eliot. “Não é ele que muda. Nós é que mudamos. Não é nosso conhecimento dele que aumenta, mas nosso mundo que se altera e nossas atitudes perante isso. A história da opinião humana sobre Pascal e pessoas de sua estatura é parte da história da humanidade. Isso assinala sua importância permanente.”
Parêntese. Tom Jobim gostava de declamar, em inglês, uma frase de “Terra Perdida”, a obra-prima de Eliot. “April is the cruellest of the months”. Abril é o mais cruel dos meses. Um dia Tom confessou que era a única que ele conhecia.
É sobre um pensamento específico de Pascal que desejo falar. Me fez parar para pensar.
Aqui está: “Descobri que toda a infelicidade dos homens deriva de um simples fato: eles não conseguem ficar quietos em seu quarto.”
Clap, clap, clap.
Palmas.
Isso me remeteu a Sêneca, que dizia que “mendigamos ocupações”, e “como formigas” subimos e descemos o tronco das árvores sem propósito. (Alguém me disse que as formigas sobem e descem com aparente propósito, mas prefiro ficar com Sêneca.)
Pascal, como diria meu amigo Píndaro, brilhou.
Somos inquietos. Não sossegamos. Não conseguimos ficar no nosso canto.
Por isso sofremos.
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