Por que toda repórter esportiva da Globo é branca, “sexy” e magra? Por Nathalí Macedo

Atualizado em 29 de junho de 2018 às 15:42
Fernanda Gentil. Foto: Divulgação/TV Globo

Aposto que você já reparou que toda jornalista esportiva da Globo é gatinha.

O padrão branco e magro não se limita às novelas: jornalistas também encontram o entrave da famigerada boa aparência (que é só um termo eufemista para ‘padrão branco e magro’) em suas carreiras.

Fernanda Gentil, por exemplo – competente e talentosa, preciso ressaltar – foi alvo de duras críticas em 2016 depois de ser fotografada na praia com uma barriga real. Esperavam uma barriga Pugliesi, claro, porque uma barriga chapada é tudo que uma jornalista esportiva precisa. Dãã.

Muitas são as mulheres lindas do jornalismo esportivo global: Carol Barcellos, Cristiane Dias, Glenda Kozlowski. Nos outros seguimentos de jornalismo da emissora, o critério parece ser o mesmo.

Não pretendo com isso dizer que essas moças não venceram pelo talento, mas é cientificamente comprovado: pessoas “bonitas” têm vantagens na vida profissional porque se tende a prestar mais atenção no que elas dizem.

O espectador esportivo brasileiro não entendeu muito bem a parte do “prestar atenção no que elas dizem.” Além de se indignarem quando as mulheres que comentam seus jogos favoritos não têm aparência de blogueira fitness, eles protagonizam um show de assédio e objetificação. A lógica é que para aceitarem uma mulher falando de futebol em um espaço de poder como a televisão, ela precisa necessariamente agradar ao voyeurismo masculino.

A postura incomodou tanto que, desde o ano passado, um grupo de jornalidtas esportivas promovem uma campanha intitulada “Deixa elas trabalharem!”, que se concentra em denunciar assédios no meio esportivo, sobretudo futebolístico. Nota: é triste viver em um país que precisa disso.

A Globo quer agradar esse tipo de espectador ignorante e machista, que é o espectador que ela tem, afinal, e por isso mantém o padrão branco e magro em seu quadro de jornalistas (e atrizes e apresentadoras, mulheres, enfim).

Você pode dizer: “Mas não é só a Globo, jornalistas esportivas em geral estão no padrão de beleza!”

É, só se for no Brasil – vide Renata Fan, da Band.

Em outros países, aparentemente mulheres são contratadas e avaliadas pelo público de acordo com o papel que desempenham, e não por suas barrigas, coxas e peitos.

Na Fox, por exemplo, há mulheres de todas as idades e corpos, assim como na ESPN, CNN e principais TVs da Europa.

Não citarei nomes bem exporei mulheres à discussão se são ou não ‘bonitas’, mas vale um Google: em países como Inglaterra, França e Berlim, algumas das repórteres esportivas se parecem com a sua tia – e os especdores, pasmem, prestam atenção ao que elas dizem.

Enquanto o critério de contratação e sucesso de mulheres no jornalismo esportivo (e na TV brasileira de modo geral) for estético, não se prestará atenção à mina de ouro de talentos que temos por aqui (alô, Fernanda Gentil!)

Mais um desserviço da Globo às mulheres. Tudo pela audiência.