O Parlamento de Portugal foi oficialmente dissolvido nesta segunda-feira (15), abrindo as portas para eleições antecipadas marcadas para 10 de março. O movimento acontece devido à renúncia do ex-primeiro-ministro António Costa em meio a investigações de corrupção que atingiram o cerne do governo. A legislatura de maioria absoluta do Partido Socialista estava programada para continuar até 2026.
Apesar das circunstâncias que levaram à queda do governo, o Partido Socialista lidera as pesquisas de intenção de voto para o próximo pleito. Segundo o instituto Aximage, o Partido Social Democrata (PSD), principal legenda de oposição de centro-direita, está em segundo lugar, quase 9 pontos percentuais atrás dos socialistas, que marcam 34,1%.
O partido de extrema-direita Chega aparece em terceiro, com 16,3%, apresentando um discurso antissistema e com chances de ampliar seu desempenho em relação às eleições de 2022.
Com perspectivas de conquistar uma bancada significativa, o líder do Chega, André Ventura, 40, já expressou sua intenção de participar de um eventual governo. Em Portugal, o primeiro-ministro não precisa ser da legenda com melhor desempenho, e acordos pós-eleitorais são comuns.
Em 2015, os socialistas chegaram ao governo por meio de uma aliança inédita de partidos de esquerda, conhecida como “geringonça”, mesmo ficando em segundo lugar nas eleições. A última pesquisa mostra um empate técnico entre os partidos de esquerda (44,9%) e os de direita (46,4%).
Com 3,7% de intenções de voto, o partido ambientalista PAN se mostra disponível para apoiar governos de ambos os espectros. No entanto, o líder do PSD, Luís Montenegro, rejeita uma aliança pós-eleitoral e destaca seu compromisso em ganhar as eleições sem apoio do Chega.
Diante da possível ampliação da bancada do Chega, o PSD pode enfrentar desafios para formar um governo à direita sem o apoio dos radicais. Uma alternativa seria buscar um arranjo que assegurasse ao menos a abstenção de alguns deputados da oposição.
Na última semana, os sociais-democratas anunciaram uma coligação pré-eleitoral com o CDS-PP e o Partido Popular Monárquico, que, juntos, não têm 2% das intenções de voto.
O secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, não descarta uma reedição da geringonça, destacando que a prioridade é vencer as eleições. Santos rejeita a ideia de um bloco central com os sociais-democratas, enfatizando a importância do entendimento em questões fundamentais para o país.
“Não vou negar aquilo que nós já fizemos e de que já participei [geringonça]. Aquilo que digo e insisto é que o PS vai fazer uma campanha focada no seu programa eleitoral e numa vitória em 10 de março e depois procurará uma solução governativa que melhor permita cumprir o essencial do programa eleitoral”, disse Santos.
Com a dissolução do Parlamento, a política portuguesa entra em um período de suspensão até a formação da nova legislatura. O ex-primeiro-ministro António Costa permanece em funções limitadas até a posse do novo governo, enquanto a incerteza paira sobre o futuro político do país.