“Senado não é lugar para fazer negócios”, diz adversário de Hang e nome de Lula em SC

Atualizado em 15 de março de 2022 às 19:48
Afrânio Boppré discursando na tribuna da Câmara Municipal de Florianópolis. Ele tem 61 anos, cabelos brancos, usa óculos, veste terno e gravata e usa máscara contra a Covid-19.
Afrânio Boppré (PSOL), pré-candidato ao Senado em Santa Catarina, quer ser o antagonista de Luciano Hang na corrida eleitoral. Foto: Divulgação

Pré-candidato ao Senado Federal por Santa Catarina, o vereador de Florianópolis Afrânio Boppré (PSOL) pretende enfrentar o empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan, nas eleições de outubro. “Antagonizar (com Hang) é uma tarefa necessária”, diz o psolista. Ex-vice-prefeito da capital catarinense (1993 a 96) e ex-deputado estadual (2003 a 06), ambos pelo PT, Afrânio falou ao DCM que “nutre a possibilidade real de vitória”. Leia, no final da página, a entrevista completa.

No PSOL desde 2005 (já tendo sido presidente nacional do partido, entre 2010 e 2011), quando deixou o PT por discordar do “caminho adotado pelo governo Lula”, Afrânio defende, para as eleições de 2022, a unidade do “campo democrático e popular” em torno do ex-presidente para vencer Bolsonaro: “Lula é hoje a candidatura presidencial que reúne melhores condições para derrotar Bolsonaro”, diz.

Afrânio Boppré é economista e começou sua militância no movimento estudantil, durante a ditadura militar. Ele foi presidente do Centro Acadêmico de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e participou da reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE). Aos 61 anos, quer o Senado: “Lá não é lugar para fazer negócios nem piruetas. É espaço institucional para fazer política de maneira séria. É para isso que estou me apresentando como pré-candidato”, afirma ele.

Santa Catarina já teve nomes de esquerda e centro-esquerda no Senado em legislaturas passadas. No entanto, em 2016, na votação do impeachment contra a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), os três parlamentares catarinenses (Dário Berger-PMDB, Dalírio Beber-PSDB e Paulo Bauer-PSDB) votaram pela concretização do golpe. Afrânio garante que “seu compromisso é apoiar e defender a democracia”. Leia abaixo a entrevista completa com o pré-candidato a senador.

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Leia abaixo a entrevista completa do DCM com Afrânio Boppré

DCM: Na carta que você divulgou anunciando sua pré-candidatura ao Senado, você aposta bastante na unidade, não só em Santa Catarina, como no Brasil. Essa é a melhor forma para combater Bolsonaro?

Afrânio: O PSOL é uma novidade salutar na política brasileira, surgiu para construir uma alternativa partidária para a esquerda. No entanto, dada a gravidade da situação que estamos envolvidos, urge derrotar as forças fascistas que ascenderam ao governo brasileiro e demais espaços institucionais. Para esses desafios, não haverá sucesso mediante dispersões do campo político democrático e popular. Política é determinada pela correlação de forças e o PSOL por mais combativo que seja, sozinho não reúne forças suficientes para livrar o Brasil da calamidade política, social e econômica que vivemos. Só é revolucionário aquele que trabalha a partir da realidade. Vale aqui lembrar Gramsci: pessimismo da razão e otimismo da vontade.

Como você avalia a movimentação do PSOL em relação ao apoio a Lula ainda no primeiro turno? Esse é o melhor caminho?

Lula é hoje a candidatura presidencial que reúne melhores condições para derrotar Bolsonaro. Qualquer balanço das experiências de governo do PT e de seus aliados nos permite tirar conclusões críticas. Inclusive, o PSOL nasceu em 2005, no primeiro momento como dissidência do caminho adotado pelo governo Lula. Sem desconhecer os equívocos do PT e do Lula, é necessário identificar o inimigo maior.

Afrânio, você tem uma carreira política consolidada em Santa Catarina. Já foi vice-prefeito de Florianópolis, deputado estadual e agora está no terceiro mandato como vereador. O que você espera da candidatura ao Senado?

Eu nutro a possibilidade real de vitória. Na história da política catarinense já tivemos no Senado representantes do campo democrático e popular, como Jaison Barreto, Dirceu Carneiro, Nelson Wedekin e Ideli Salvatti. Nossa pré-candidatura surge como elemento para reativar a esperança e apoiar as lutas contemporâneas de nosso povo. A pré-campanha e a campanha propriamente dita, por si, já são espaços para esse objetivo. Defender as causas ambientais, combater as opressões, defender a distribuição da riqueza e da renda, combater a anticiência e o estágio de regressão social que estamos submetidos. Avalio que o Senado é espaço institucional estratégico e se relaciona com a governabilidade do executivo federal. Nosso compromisso é apoiar e defender a democracia.

O Luciano Hang, dono das lojas Havan, também está se colocando como candidato ao Senado. Você já protagonizou alguns embates com ele, sendo o último relacionado aos chuveiros com irregularidades na areia da praia. Você pretende antagonizar com ele nessa corrida?

O episódio do chuveiro em Canasvieiras (praia no norte de Florianópolis) é apenas um exemplo de que esse senhor se considera acima da lei e das regras. Quando alguém o enfrenta, ele se desequilibra e parte para o ataque e desqualificações. Hoje, ele está de sapato alto. Se considera mentor e o “zero zero” da família bolsonarista. Íntimo de Olavo de Carvalho, quer ser uma figura política nacional com grandes pretensões para o futuro. Antagonizar é uma tarefa necessária.

O Hang se tornou uma figura com expressão nacional, é muito próximo de Bolsonaro, detém muito poder econômico, tem bons números nas redes sociais. Como você acha que será essa disputa?

O Senado não é lugar para fazer negócios nem piruetas. É espaço institucional para fazer política de maneira séria. É para isso que estou me apresentando como pré-candidato. Em 2016 os três senadores catarinenses votaram em favor do golpe contra a presidente Dilma. Essa disputa de 2022 deverá demarcar o campo dos que atuam a favor da democracia ou a favor de golpes. Rede sociais são importantes, mas nada melhor do que a realidade para mostrar o desastre do bolsonarismo. Inflação na casa dos dois dígitos, desemprego, corte dos investimentos na educação, miserabilidade social crescente etc. A consciência das pessoas se forma a partir dessa realidade concreta.

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