Fiasco das prévias conspira a favor de Leite contra Doria no PSDB

Atualizado em 23 de novembro de 2021 às 11:13
João Doria e Eduardo Leite
João Doria e Eduardo Leite em debate da Globo.
Foto: Reprodução

O fiasco das prévias do PSDB ajudou, mas colocou um desafio ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite: vencer a disputa com Doria é o seu único caminho possível.

Porque uma derrora nesta altura do campeonaro levará a um descrédito tal que nem a prefeitura de Pelotas caberá mais no currículo do gaúcho.

Desde que esse processo de escolhas começou, tudo vem conspirando a favor de Leite. Primeiro foi o truque de Aecio no regimento: o mineiro armou um esquema em que um voto vale mais que o outro – naturalmente, aumentando o peso do seu grupo de interesse.

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João Doria só topou a jogada porque confia no seu taco – e na sua capacidade de arrumar dinheiro e investir como gente grande. O grupo privado do gestor, o Lide, não é mais restrito ao eixo Rio-SP-Sul-NE.

Doria estendeu o esquema para os Emirados Árabes e China, onde São Paulo também organizou escritórios para fomento de ações com o governo e parcerias com a iniciativa privada.

Excursões de empresários aos dois locais virou rotina no Lide, assim como Malafaia faz com seu povo de Deus para conhecer os passos de Jesus na terra santa.

Mas voltando às prévias.

Com recursos e aplicando métodos de alta sofisticação técnológica – já havia testado modelos durante a pandemia, controlando, através de celulares, a circulação de pessoas na cidade de São Paulo -, Doria criou um esquema para inscrição em massa de filiados.

Doria e seu trator de 14 esteiras

Só em SP mais de 20 mil filiados se inscreveram para votar. No domingo, 21, foi montada blitz para garantir que cada militante honrasse o sufrágio.

Tablets foram distribuídos aos diretórios zonais pela Executiva municipal, braço de Dória, e celulares dedicados – apelidados pela militância de chupa-cabras – foram parar nas mãos de aliados para monitorar os votantes.

Resultado: o caminhãozinho idealizado por Aecio e construído por Bruno Araújo não aguentou tanta areia e abriu o bico na primeira meia hora. O APP dos tucanos era um brinquedinho para poucos e bons, como queria Aecio, e bugou rapidinho.

Ainda em favor do gaúcho, destaca-se que toda essa confusão serviu para embaralhar as coisas e piorar ainda mais a imagem do gestor: agora, além de traidor, pegou fama de oportunista e de alguém que atropela adversários sem dó para garantir seus próprios interesses.

A Eduardo Leite, coube o papel de menino bonzinho, inocente, que está disposto a cumprir o que o partido determina para tentar garantir a sua sobrevivência.

Sergio Moro já percebeu isso. E já traiu o gestor. Nesta terça aparece falando que prefere Leite a Doria.

Outra questão que favorece Leite é a decisão que está sendo tomada pelo partido para sair do imbróglio: aumentar o prazo de votação, mantendo o sistema e o mesmo aplicativo.

Doria traído?

É sem dúvida uma decisão a seu favor pois em dias de semana a equipe de Doria não terá tanta facilidade para gerar mobilização de filiados e especialmente ‘vigiar’ o voto de cada um – tem muito tucano de holerite que estava sendo vigiado, mas que quer ver Doria pelas costas e, sozinho com sua consciência na hora de votar, pode fazer valer esse sentimento em desfavor do gestor.

A sorte está lançada. O certo, porém, é que o PSDB caiu para a segunda divisão em 2021. Quem vai acreditar num candidato tucano, seja Doria, Leite ou Arthur Virgílio, escolhido numa palhaçada completa, com requintes de picaretagem a dar e vender?

Essa é outra constatação que leva a crer que as coisas conspiram a favor de Leite: num momento conturbado como esse o melhor, imaginando com cabeça de tucano, é jogar água na fervura e deixar o tempo passar.

O gaúcho é mais palatável para seguir essa receita.