PT nacionaliza eleição municipal e dá espaço estratégico a aliados que quer em 2026

Atualizado em 4 de janeiro de 2024 às 17:00
Militantes do PT durante campanha eleitoral. Foto: Reuters

Por Ricardo Miranda

O PT mudou a estratégia de colecionar conquistas municipais no comando das chapas nas principais cidades, como fez, historicamente, desde sua fundação, para converter-se no condutor de uma frente de candidaturas de esquerda e centro em 2026 – quando Lula espera reeleger-se.

A estratégia é uma ordem unida do presidente neste terceiro mandato. O PT pode não fazer muitas prefeituras importantes, e talvez passe sem prefeitos pelas capitais do Sudeste e Nordeste, como sugerem as pesquisas, mas vai reunir uma turma de aliados que nunca teve – São Paulo, Rio de Janeiro e Recife como porta-estandartes. Para chegar a esse ponto, o DCM ouviu quatro importantes cientistas políticos e especialistas em pesquisas eleitorais e pediu que voltassem seus olhos para o reflexo das eleições municipais deste ano para o próximo pleito presidencial. Eles veem um PT, conduzido por Lula, muito pragmático, mesmo  que esse ano tenha que ir a reboque de aliados, como Guilherme Boulos, em São Paulo, e Eduardo Paes, no Rio, e em inúmeras cidades importantes, apoiando aliados com quem quer contar em 2026.

Por isso, embora o PT pareça reincidir no “desastre” das eleições municipais em 2020, quando não elegeu nenhum prefeito de capital, pior resultado da sigla desde os anos 1980 – mesmo colocando no páreo pesos como Jilmar Tatto, em São Paulo, Benedita da Silva, no Rio, João Coser, em Vitória, Luiziane Lins, em Fotaleza, Marília Arraes, em Recife, entre outros – o que acontece em 2024  é diferente, garantem os analistas. Apostou-se tudo em 2020, e agora, em 2024, o foco é montar alianças para daqui a dois anos.

“O PT está fazendo uma aposta de nacionalizar a campanha, apostando no Lula como o grande eleitor, indo agora a reboque nas chapas municipais, para fortalecer a próxima campanha nacional”, aponta o cientista político Paulo Baia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O PT ainda depende muito do Lula, mas é cada vez menos um partido único isolado, do ponto de vista de prestígio nacional”, acentua o cientista político e professor do Departamento de Gestão Pública da FGV/EAESP, Marco Antonio Teixeira. “Essa estratégia do PT é correta, e é uma evolução clara. É preferível concorrer junto com aliados, para ganhar ou perder, sem ficar a ideia de terra arrasada”, acentua o professor em Ciências Econômicas com pós-graduação em Marketing Murilo Hidalgo, dono da Paraná Pesquisas.

Murilo Hidalgo, dono do Paraná Pesquisas. Reprodução

Simultaneamente à nova postura do PT, de alianças e apoios, há o que o professor Marco Antonio Teixeira chama de “refluxo dos candidatos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ainda que candidatos da antiga base – PL, PP ou Republicamos   acabem acabem faturando muitas disputas, o cenário é outro. Não há bolsonaristas raiz e quem vencer precisará de Lula para governar. São menos ex-bolsonaristas, e mais adesistas, e a força gravitacional, hoje, atrai para Lula, não para seu líder inelegível.

No Sudeste, 42% do eleitorado nacional, ou 67 milhões de eleitores, dois dos quatro prefeitos de capitais lideram os levantamentos até agora, enquanto outros dois vivem cenários desafiadores, de acordo com o agregador de pesquisas Ipespe Analítica. Começando por Guilherme Boulos e Eduardo Paes, estrelas da festa – até agora. Os colégios eleitorais das duas cidades somam, sozinhos, 15 milhões de eleitores. Em São Paulo, Boulos, do PSOL, é líder absoluto na disputa, deixando a direita se engalfinhar no segundo escalão, com o ex-ministro Ricardo Salles, do PL, tentando “passar a boiada”, sobre o prefeito Ricardo Nunes, do MDB. “É ótimo para Boulos ver a direita rachada entre Nunes e Salles”, aponta o professor Teixeira. “E, muito surpreendente, ver o desprestígio do bolsonarismo no Rio e a força de Eduardo Paes, que vai ter uma reeleição tranquila.”, completa. Paes, um ex-tucano que já foi anti-Lula, hoje é Lula desde criancinha – uma costura feita com muito diálogo político e um derrame de obras para o Rio. Já a família está passando vergonha dentro de casa. Depois de várias tentativas, lançou o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), ex-chefe da Abin. Pelo Instituto Paraná Pesquisas, Paes tem 44,44% e Ramagem longínquos 9,6%. Os outros no páreo mal contam.

Em Vitória, como é modinha, um ex-delegado de polícia, Lorenzo Pazolini (Republicanos) , tem apoio de 33% do eleitorado, conforme o Ipespe Analítica, ante 20% do ex-prefeito João Coser (PT). Em Belo Horizonte, o prefeito Nomann (PSD) do mesmo partido e estado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, está na rabeira, com 9%, com quatro nomes à sua frente. O apresentador do programa Balanço Geral (o Datena local) Mauro Tramonte (Republicanos), com 18%, seguido por Carlos Viana (Podemos), com 15%, Duda Salabert (PDT), com 11%, seguem firmes.

No Sul, fortificação bolsonarista, é onde pode pintar a mais surpreendente – talvez única – vitória do PT. A ex-ministra Maria do Rosário, a mesma que foi, mais de uma vez, ofendida de forma sórdida por Bolsonaro, segue com sólidos 26%, pelo Ibespe, logo atrás do candidato à reeleição Sebastião Melo (MDB), com 33%. Só não está mais perto porque perde parte dos votos progressistas para a terceira colocada, Juliana Brizola (PDT), com 7%. Mas a frente está sendo construída. Tanto em Porto Alegre, com Sebastião Melo (MDB), quanto em Florianópolis, com Topázio Neto (PSD), os candidatos à reeleição aparecem na frente, coincidentemente com 33% dos votos em suas respectivas cidades – conforme o Ipespe Analítica. E se não podia ser pior, está no páreo a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil).

O Nordeste é sempre a principal aposta do PT para voltar a governar capitais do país, o que não ocorre desde 2018. Esse ano, a notícia não é igualmente boa. Até o momento, segundo o Ipespe Analítica, o PT não aparece na frente em nenhuma das nove capitais nordestinas – embora haja partidos da base política em boa posição. A melhor notícia vem de Fortaleza, onde sopra a esperança  com a ex-prefeita Luizianne Lins (PT), em segundo lugar, com 21%, atrás do ex-deputado federal Wagner Sousa Gomes, o Capitão Wagner (União Brasil), 33%. Outra chance do PT vem o deputado estadual Fábio Novo, em Teresina, segundo lugar, que vem crescendo em cima de Silvio Mendes (União Brasil), ainda na frente. Cada pesquisa local puxa pra sua sardinha, mas para a Ipespe Analítica, o PT ainda tem que remar: perde por 43% a 31%.  Nada decidido.

Em Recife, território do PSB, o prefeito João Camos (PSB), lidera com folgados 51%. Tudo indica que o filho do ex-governador e ex-presidenciável Eduardo Campos – que virou um mito local após morrer de forma trágica – deve contar com o apoio, ainda no primeiro turno- até porque não deve ter segundo – do único rival, o ex-prefeito petista e deputado estadual João Paulo, com 13%. Em Salvador, terceiro maior colégio eleitoral do país, o prefeito Bruno Reis (União Brasil) registra 38% da preferência, quase quatro vezes mais que a segunda colocada, a deputada federal e ex-prefeita Lídice da Mata (PSB), com 10%. Em Maceió, lidera , com folga, o prefeito João Henrique Caldas, um certo JHC (PL), sem rivais. Em Aracaju, duas mulheres são apontadas como favoritas: uma defensora pública aposentada, Emília Corrêa (Patriota), líder da oposição na Câmara Municipal, e uma delegada, Danielle Garcia (Podemos), – hoje parte hoje do governo estadual de Fábio Mitidieri (PSD).

As três capitais do Centro-Oeste têm cenários mais incertos entre essas cidades no país. Dois dos três prefeitos que podem disputar a reeleição não lideram as corridas em suas cidades, diferentemente da tendência. Em Goiânia, o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) surge com 8%, em quarto lugar. À frente dele estão o senador Vanderlan Cardoso (PSD), com 23%, a deputada Delegada Adriana Accorsi (PT), com 15%, e o ex-deputado Major Vitor Hugo (PL), com 14%. Em Campo Grande, a titular também havia sido eleita vice em 2020, na chapa de Marquinhos Trad (PSD), que renunciou para disputar o governo estadual em 2022. Porém, a prefeita Adriane Lopes (PP) tem 13% e está numericamente atrás do ex-prefeito André Puccinelli (MDB), com 18%, e da ex-deputada federal Rose Modesto (União), com 15%. A exemplo das outras duas capitais da região, Cuiabá também tem uma disputa parelha a menos de um ano da votação em outubro. Lá, porém, o prefeito Emanoel Pinheiro (MDB) já foi reeleito. Quem lidera, de acordo com o agregador, é o deputado estadual Eduardo Botelho (União), com 23%, seguido pelo deputado federal Abílio Brunini (PL), com 19%, e pelo deputado estadual Lúdio Cabral (PT), com 15%.

Dados do agregador de pesquisa Ipespe Analítica  – que só não monitora Boa Vista, sem registros disponíveis – mostram que a direita é dona do Norte – casos de Belém e Palmas. E, vejam só, é a única região do país onde Lula não tem nenhum nome vinculado à sigla além da quinta colocação. Seus “melhores” candidatos são quase traço: Anne Moura, em Manaus, com 3%, dez vezes menos que o líder nas pesquisas, e Fátima Cleide, em Porto Velho, com 1%. No maior colégio da região, Manaus, o prefeito David Almeida (Avante) tem 34% das intenções de voto, seguido do deputado federal Amom Mandel (Cidadania), com 25%, o mais votado do Amazonas nas eleições de 2022. Na capital paraense – quem vencer vai administrar a cidade durante a organização e realização da COP30, em 2025 – o deputado federal Éder Mauro (PL) surge com 18%, por hora favorito.

Antonio Lavareda é dono do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), cientista político e especialista em comportamento eleitoral e marketing político. Foto: Divulgação

Em Palmas, a deputada estadual Janad Valcari (PL) aparece em primeiro, com 33%. Em Porto Velho, o prefeito Hildon Chaves (PSDB) já foi reeleito em 2020, mas parece ser capaz de fazer a sucessora, a deputada federal Mariana Carvalho (Republicanos), que aparece com 22%, mais que o dobro do segundo colocado, Marcelo Cruz (Patriota). Por fim, em Rio Branco, o favorito é o ex-prefeito Marcus Alexandre (MDB), com 34% – ex-prefeito pelo PT, partido ao qual esteve filiado por 12 anos.

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