Quem é Hugo Chávez Frias?

Atualizado em 8 de outubro de 2012 às 12:11
Chávez e seu mentor, Bolivar

DE CARACAS

Desde que cheguei à Venezuela, Hugo Chavez Frias tem sido uma pessoa muito ocupada. Em minha primeira tarde na capital, Caracas, ele estava falando à  milhares de jovens em um estádio esportivo e lutando boxe com atletas olímpicos que retornaram recentemente das Olimpíadas. No dia seguinte, ele dirigiu um comício de dezenas de milhares de simpatizantes do governo no estado de Mérida. De lá, ele foi para outro estado, Táchira, onde havia uma multidão semelhante reunida pelas ruas. Na sexta-feira à noite, ele fez uma visita surpresa no Festival na Plaza de los Museos, em Caracas, onde jovens estavam celebrando o lançamento do segundo satélite venezuelano, chamado ‘Miranda’, que foi construído na China por cientistas de ambos os países.

Pergunte a você mesmo: na Europa, há um único líder político que apareceria, sem qualquer aviso prévio e com pouca segurança ao seu redor, em um festival de jovens e que seria imediatamente cercado de simpatizantes fervorosos?Conforme fez sua entrada pela multidão, foram ouvidos cânticos que clamavam: ‘Uh, Ah, Chavez no se va!’ (Chavez não está indo embora). No dia seguinte, tal cântico continuou na cidade de Zulia, onde dezenas de milhares  de pessoas se  mobilizaram novamente. De acordo com uma reportagem de domingo no jornal britânico Observer, Chavez está ‘abatido com o tratamento de câncer’, e ‘não está conseguindo andar direito’. Você deve imaginar se Rory Carroll, o autor da reportagem, está realmente falando da mesma pessoa. De fato, você deve pensar se ele está vivendo no mesmo planeta.

Chavez não pareceu ter qualquer dificuldade ao andar até o palco em Zulia, segurando uma guitarra e fingindo estar tocando com a banda que estava se apresentando. Apropriadamente, seu discurso começou com uma espontânea cantoria com a multidão, antes que ele dissesse: “A Venezuela é, nos dias de hoje, independente e livre, sem ser colônia de ninguém!’

Há acusações de que Chavez promoveu um culto à sua personalidade na Venezuela, e é inegável que ele é uma pessoa difícil de evitar. Durante as campanhas eleitorais, ainda mais. Afinal das contas, Chavez ganhou, nos últimos anos, mais eleições democráticas do que qualquer outro presidente. Desde a primeira vez  em que se elegeu, tendo angariado 56% dos votos, em 1998, a cultura política do país se transformou. Ele trouxe à cena milhões de venezuelanos pobres, que foram excluídos por décadas do sistema político de “democracia pactuada”, na qual os dois partidos principais dividem o poder.

No ano seguinte, Chavez ganhou um referendo para escrever uma nova Constituição para o país, e o público apresentou propostas em relação ao seu conteúdo. A pequena Constituição Bolivariana é frequentemente segurada por Chavez durante entrevistas e comícios, e ainda hoje é vendida nas ruas. Após a Constituição ser promulgada, novamente por uma eleição democrática, o presidente foi reeleito por uma segunda vez em vários anos, dessa vez com 59% dos votos. Em 2006, Chavez foi reeleito com 62%.

Os números falam por si mesmos, assim como as credenciais do processo democrático da Venezuela. A verdadeira questão, então, é: qual é a causa dessa popularidade? Lendo as reportagens das maiores fontes de mídia ocidentais, você seria perdoado por pensar que as massas venezuelanas  seguem como um rebanho de ovelhas cegas um caudilho supremo com uma devoção escravista.

Um sistema alternativo que funciona, um sistema no qual lucrar não é o principal objetivo das políticas governamentais, é realmente estranho. E então lemos relatórios de ‘abuso dos direitos humanos’ na Venezuela sem especificação de quais, exatamente, são os supostos abusos. Nos contam sobre o uso que Chavez faz da abundância de óleo venezuelana para ganhar suporte eleitoral, sem qualquer elaboração adicional. De fato, pode ser um pouco difícil para aqueles que vivem em um país com um sistema político mofado imaginar que qualquer político possa genuinamente ganhar apoio de seus compatriotas.

Então, deixe-nos explorar essa possibilidade de forma séria.

Por que a maior parte da população venezuelana continua reelegendo Hugo Chavez como governante? Seria porque o país, antes atolado em corrupção e pobreza, tem agora o menor nível de desigualdade em toda a América? Seria porque, desde que Chavez  se tornou presidente, 22 universidades foram construídas – todas completamente grátis, e que encorajam aqueles menos favorecidos economicamente a frequentá-las? Seria porque as pessoas pobres vivendo nos morros que cercam Caracas agora podem tomar um teleférico até a cidade, o que transformou a jornada cansativa em uma jornada de dez minutos, e é completamente grátis?

Seria porque o governo construiu parquinhos nas praças da cidade para que as crianças brinquem? Seria por conta dos projetos educacionais que ensinam os homens e mulheres mais velhos a ler e a escrever? Seria por conta da Constituição Bolivariana, escrita pelo público e aprovada num referendo nacional, e que consagra pela primeira vez os direitos dos indígenas, ou porque ela bane que qualquer país estrangeiro tenha uma base militar no solo venezuelano?

Ou, como Rory Carrol gostaria que pensássemos, Chavez agora é uma ‘figura doente e esquiva’? Me parece estranho que uma figura esquiva passe uma semana abrindo uma nova fábrica, dando entrevistas na televisão, viajando pelo país, discursando para milhares de pessoas e se juntando aos jovens em um festival em Caracas.

Mas, novamente, será que Carroll sabe algo que eu não sei?

Em seu artigo, ele sugere que pesquisas recentes estão equilibradas, mas esta é uma distorsão da realidade. A média das pesquisas recentes coloca a liderança de Chavez entre  13 e 28 pontos porcentuais. As únicas duas enquetes que colocam a possibilidade da vitória de Capriles dão a Chávez uma vantagem de 2 a 4 por cento. Novamente, é um exemplo das tentativas de esconder a realidade.

O fato é que Hugo Chavez é uma figura extremamente conhecida e popular na Venezuela, mas não foi por causa dos cartazes de rua que ele foi eleito tantas vezes, e provavelmente será reeleito no domingo. Essa linha de argumento somente mostra o preconceito que temos contra a inteligência dos venezuelanos e sua capacidade de desenvolver visões políticas bem informadas — isso para dizer quanto é subestimada a habilidade de Chavez de conectar-se com os venezuelanos comuns e concretizar conquistas em seu governo.

TRADUÇÃO DE CAMILA NOGUEIRA