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Quem é o professor que pôs Bolsonaro para correr de Bauru e recebeu a visita da PM

Sem Bolsonaro, a cavalgada em Bauru foi um fracasso

Procurado pela polícia em sua casa e na escola onde trabalha por um capitão da PM, identificado como Thiago, para desmarcar o ato contra Bolsonaro, programado para acontecer em Bauru (SP) em 7 de setembro, Marcos Chagas falou com o DCM.

O professor da rede estadual, que é mestre em sociologia, contou do amadorismo da ação – o polícial não tinha um papel sequer nas mãos – e como o movimento dos educadores na cidade dirigida pela negacionista Suellen Rosim está abalando o bolsonarismo, a ponto do mandatário ter cancelado de última hora participação numa cavalgada semana passada.

Dias atrás a câmara de vereadores negou a Bolsonaro o título de cidadão de Bauru.

DCM: Como foi a abordagem do polícial?

Marcos Chagas: Temos uma frente em Bauru que chama os atos Fora Bolsonaro desde maio.

É formada por sindicatos, movimentos, grupos políticos e partidos.

Em junho Bolsonaro anunciou que viria para Bauru, mas no dia 28/08, que era o dia dele vir, nós chamamos um grande ato para um dos pontos de passagem do que seria uma cavalgada.

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Após a divulgação do ato, Bolsonaro cancelou a vinda para Bauru.

Acreditamos que isto fez bolsonaristas da cidade ficarem bravos com o movimento.

Agora estamos construindo um grande ato para o 7 de setembro.

Aí, na manhã desta quinta, 2, um capitão da PM foi a minha residência e conversou com minha esposa.

Disse que estava ali para que eu cancelasse o protesto.

Mesmo eu não estando cobraram minha esposa.

O que eles fizeram depois?

Foram até a escola onde trabalho.

O capitão não tinha nenhum documento para apresentar, só a fala.

Você teve medo?

Na escola, o capitão foi até a direção e solicitou que eu fosse chamado.

Eu pedi que alguém da direção ficasse comigo e acompanhasse a conversa.

Ele foi direto, disse que a inteligência da PM me identificou como organizador do ato de 7 de setembro e que ele estava ali para que o ato fosse cancelado ou remarcado.

Afirmei que não era o organizador e desta forma não teria condições de remarcar.

Ele queria que eu desse o nome de alguém capaz de cancelar o evento.

Respondi que o ato é organizado por uma frente com diversas de organizações.

Depois de questionar o motivo ele falou que era porque haveria um ato a favor do presidente na cidade no mesmo dia. Mas, não apresentou nada para comprovar.

A polícia ter ido na porta da minha casa, depois me abordar no local de trabalho foi constrangedor.

Não sou bandido para ser cassado. Eles poderiam ter enviado um documento para as entidades que estão organizando e não me procurar individualmente.

Como foi uma ação sem documentação, de uma forma intimidadora, fica uma preocupação: foi uma atitude da corporação?

Por que o policial não tinha nenhuma documentação para apresentar?

Se não era da corporação, pode o capitão ir fardado e com viatura oficial na porta da minha casa e trabalho?

São questões que não foram esclarecidas e que dá características de uma ação que foi feita mais para intimidar. Por isso, tenho receio do que mais eles podem fazer.

Qual foi a reação do governo ao episódio?

A secretaria da Educação é uma estrutura arcaica, com poucas mudanças da época da ditadura. Então sempre possuem ferramentas para represálias de todas as formas.

Na minha escola, solicitei as imagens das câmeras que filmaram a ação da PM, mas me foi negado. Disseram que só entregam sob pedido da polícia.

Fale sobre a ‘pipocada’ do presidente no dia da cavalgada

Estava tudo organizado para a vinda dele.

Vários deputados bolsonaristas estavam divulgando a semanas do evento.

Neste percurso, conseguimos barrar um projeto na câmara de vereadores que pretendia dar título de cidadão ao Bolsonaro.

Quando marcamos e divulgamos massivamente o ato para uma parte do trajeto que ele faria em Bauru é que anunciaram que ele não viria mais.

Nossa avaliação é de que desistiu de vir porque chamamos o ato, estávamos prontos a estragar a possibilidade dele vir para a cidade e fazer campanha antecipada livremente. Estaríamos ali com faixas, cartazes e gritos contra para não permitir.

Como está Bauru sob o comando de Suellen Rossim, negacionista e aliada do presidente?

A gestão da prefeita Suellen é igual a federal.

Uma prefeita que não governa. Volta-se mais e postar coisas nas mídias sociais e não tomou ações para controle da pandemia, sempre criticando as ações do governo do Estado.

Ao mesmo tempo particiou de atos bolsonaristas, com o dono da Havan e o Major Olímpio.

Sendo que o Major foi internado logo após, onde as pessoas não usavam máscaras, e morreu um mês depois.

Na sua opinião a prefeita de alguma forma induziu a ação da PM contra você?

Acredito que não. Ela sempre está nas manifestações bolsonaristas, mas acredito que nesta situação não tem influência direta dela.

Os atos contra Bolsonaro em 7 de setembro estão mantidos?

Por conta do ocorrido as entidades que fazem parte da frente que chama o ato decidiram manter, mas trocar o local, por questão de segurança.

Será na frente da câmara de vereadores.

Jose Cassio

JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo

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