Quem são os “kids pretos”, militares apontados como mentores do 8 de janeiro

Atualizado em 29 de setembro de 2023 às 14:37
O general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes. Foto: reprodução

O general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, foi alvo de um mandado de busca e apreensão conduzido pela Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (29), na Operação Lesa Pátria.

Ele fez parte dos kids pretos, grupo de especialistas em operações especiais do Exército, que são altamente treinados em, por exemplo, ações de sabotagem e incentivo à insurgência popular, as chamadas “operações de guerra irregular”. Também intitulados “forças especiais”, eles compõem a elite de combate do Exército.

No dia 8 de janeiro, Ridauto esteve no Planalto durante os ataque golpistas da extrema-direita. Na ocasião, ele gravou um vídeo em que aparece festejando enrolado em uma bandeira do Brasil. “Quero dizer que eu tô arrepiado aqui”, disse, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Além de Fernandes, que mesmo com os olhos irritados pelo efeito do gás lacrimogêneo da Polícia Militar elogiou a corporação, outros dois kids pretos da reserva comentaram o que acontecia na capital do Brasil. “O Brasil e o Exército esperam que o senhor cumpra o seu dever de não se submeter às ordens do maior ladrão da história da humanidade. O senhor sempre teve e tem o meu respeito. Força”, disse o coronel José Placídio Matias dos Santos, se dirigindo ao então general Júlio Cesar de Arruda, no Twitter.

“Patriotas brasileiros, ignorem a grande imprensa nacional e internacional. Qualquer manifestação contra o establishment será sempre apresentada como atos antidemocráticos. Façam o que deve ser feito”, incentivou o coronel Fernando de Galvão e Albuquerque Montenegro, outro kid preto, de Portugal, onde vive.

Os vídeos da tentativa de golpe mostram ações de quem teve treinamento militar. Os bolsonaristas, que ao chegarem à Praça dos Três Poderes se depararam com grades que os impediam de avançar, se coordenaram e se organizaram para empurrar a barreira ao mesmo tempo. “É pura tática militar”, disse um oficial do Exército ligado às Forças Especiais, que preferiu não ser identificado.

Os baderneiros também se dividiram entre quem cuidava do enfrentamento direto com a polícia e quem distribuía água mineral para ajudar na diminuição dos efeitos do gás lacrimogêneo e do gás de pimenta no rosto. “Assim que invadiram o Senado, percebemos que eles logo procuravam as mangueiras anti-incêndio para espalhar pelo ambiente e minimizar os efeitos do gás”, contou um policial do Senado.

Bolsonaro e o general Mario Fernandes, um dos kids pretos – Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República

No Senado, aconteceu o caso mais grave. Golpistas atiraram uma granada do tipo GL-310, apelidada de “bailarina” por saltitar no chão enquanto dispara o gás lacrimogêneo, o que evita que o alvo a capture e lance de volta: “O estranho é que as polícias do Senado e da Câmara não têm esse tipo de granada. Então isso veio de fora”.

A GL-310 é utilizada pelo Exército em larga escala, para treinamentos militares e cursos dados aos kids pretos. Porém, os investigadores da Polícia Federal ainda não estão apurando o aparecimento dessa arma nos ataques de 8 de janeiro.

Durante o cumprimento do mandado contra Ridauto, foram apreendidos um celular, uma arma e o passaporte do militar. Ele é acusado de participação nos atos golpistas ocorridos em 8 de janeiro.

Em decorrência disso, foram determinados o bloqueio de ativos e valores do investigado. Segundo informações do G1, o general foi intimado pela corporação a prestar depoimento na ação que faz parte da 18ª fase da Operação Lesa Pátria, que investiga os eventos relacionados aos atos golpistas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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