‘Queria ganhar um trocado?’: Duvivier questiona Bolsonaro sobre compra superfaturada de vacina indiana

Atualizado em 23 de junho de 2021 às 9:51
Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/YouTube

“Agora que surgiu o esquemão da Covaxin, fica a dúvida: será que Bolsonaro só negou a Pfizer pq queria ganhar um trocado?”

Gregório Duvivier foi explícito sobre a possibilidade de Bolsonaro ser conivente com o escândalo da compra superfaturada de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, alvo de investigação pelo Ministério Público Federal (MPF).

A negociação para a aquisição do imunizante totalizou R$ 1,6 bilhão e indícios de crime foram mencionados pela procuradora da República Luciana Loureiro – ela vinha conduzindo as investigações na esfera cível e em despacho afirmou que o “elevado preço pago pelo governo pelas doses da vacina tornam necessária a investigação criminal”.

O contrato sob suspeita, segundo o jornal O Globo, foi firmado entre o Ministério da Saúde e a empresa Precisa, que representa o laboratório indiano Bharat Biotech.

“A omissão de atitudes corretivas da execução do contrato somada ao histórico de irregularidades que pesa sobre os sócios da empresa Precisa e ao preço elevado pago pelas doses contratadas, em comparação com as demais, torna a situação carecedora de apuração aprofundada, sob duplo aspecto cível e criminal, uma vez que, a princípio, não se justifica a temeridade do risco assumido pelo Ministério da Saúde com essa contratação, a não ser para atender a interesses divorciados do interesse público”, escreveu a procuradora.

A Covaxin não tem sequer aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ainda assim, ocupa o posto de imunizante mais caro comprado pelo governo federal, no valor de R$ 80,70 a dose — quatro vezes o valor unitário da AstraZeneca.

A Embaixada do Brasil em Nova Déli inclusive relatou questionamentos sobre o preço da Covaxin naquele país.

Telegramas diplomáticos em poder da CPI da Covid relatam que especialistas em saúde pública estariam criticando o alto preço que o governo indiano informou ter pago por cada dose da vacina: 4,10 dólares.

No Brasil, o custo foi de 15 dólares a dose.

A assinatura do contrato com a Precisa foi a mais rápida entre todas as negociação para aquisição de vacinas – levou 97 dias contra 330 para a compra da Pfizer.

Outro indício de irregularidade: o contrato de compra foi o único fechado pelo governo Bolsonaro que contou com intermediário.

A CPI da Covid quer saber como a representante Precisa Medicamentos lucrou com a transação de R$ 1,6 bilhão para fornecer 20 milhões de imunizantes.

Outro indício tem relação com o o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda. Em depoimento ao MP, ele relatou ter “sofrido pressão atípica” de superiores para garantir a importação da vacina Covaxin.

Miranda contou que que recebeu mensagens de “vários setores do ministério”.

E não é tudo.

Sócia da Precisa, a Global Gestão em Saúde deve R$ 19,9 milhões ao  Ministério da Saúde por ter vencido uma licitação, recebido o pagamento para fornecer medicamentos sem realizar a entrega.

Duvivier está certo de cobrar Bolsonaro.

Suas relações com a Índia são mais que suspeitas.

O genocida chegou a atuar diretamente em favor de duas empresas privadas do país, ligando diretamente para o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e pedindo que acelerasse a exportação de insumos para a fabricação de cloroquina.