Tenho nas mãos um pequeno livro, um romance curto de um escritor holandês chamado Cees Nooteboom. O nome é ”A Seguinte História”. Me detenho numa citação latina. Quid non imminuit dies. “O que o tempo não destrói?” O tempo destrói o amor, e também destrói a dor do fim do amor. Penso em Santo Agostinho e sua magistral definição do tempo. Santo Agostinho disse que quando pensava no tempo sabia o que era, mas quando lhe perguntavam o que era não tinha resposta. Agostinho poderia ter dito: o tempo é um destruídor. Ele teria produzido uma frase menos bonita, menos suntuosa, mas mais simples e mais verdadeira.
A Natasha de Tolstoi, por exemplo. Quando Pedro a reecontra depois de alguns anos em Guerra e Paz, ele já não vê nela a chama, o brilho dos olhos que a marcara tanto na juventude. O tempo destruíra aquele olhar luminoso, incandescente.
Ah, mãe, mamãe. Onde o colo, onde o semblante que trazia calma quando o susto, o medo ameaçavam imperar?
O que o tempo não destrói, mãe, o que o tempo não destrói?