Quo Vadis, Lula? Por Manuel Domingos Neto

Atualizado em 16 de maio de 2023 às 9:15
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Foto: Reprodução)

Por Manuel Domingos Neto

Lula empenha-se pela paz em um mundo crispado. Exorta beligerantes e atores decisivos às negociações para finalizar a guerra. Projeta seu nome e resgata a diplomacia brasileira.

O que pretende Lula quando permite uma demonstração de alinhamento do Exército brasileiro aos Estados Unidos e a seus fiéis escudeiros no teatro ucraniano?

Trata-se do evento intitulado “I Seminário Internacional de Doutrina Militar Terrestre do Exército Brasileiro”, marcado para o final deste mês, em Brasília.

O Exército receberá representantes de “nações amigas” para atualizar princípios doutrinários a partir das novidades apresentadas na guerra em curso. Longe de ser convescote diplomático-militar, estarão reunidos homens preocupados com o preparo e emprego de tropas.

Nas palavras do general Theophilo Gaspar de Oliveira, que responde pelo Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro, serão discutidos “conceitos e linhas de esforços para a superação das ameaças que vêm se apresentando no ambiente operacional, tanto dentro quanto fora do campo de batalha”.

Entenda-se por ameaças “fora do campo de batalha” o amplíssimo leque de iniciativas visando derrotar os russos.

Dentre os militares das “nações amigas” que se encontrarão em Brasília, destacam-se potências ocidentais lideradas por Washington: Alemanha, Reino Unido, França, Espanha, Finlândia, Itália, Holanda, Portugal, Suécia e Suíça.

Do Oriente, da Eurásia e da África estão convidados militares do Japão, Coreia do Sul, Indonésia, Arábia Saudita, Turquia, Paquistão, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, África do Sul, Israel, Egito, Angola, Moçambique, Nigéria e Tunísia.

Dos vizinhos sul-americanos foram convidados a Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru. O evento, com a duração de três dias, nega o discurso de integração do subcontinente.

O Exército não tergiversa sobre as pretensões do encontro. Segundo o general Theóphilo, os trabalhos devem resultar no “fortalecimento dos laços entre os centros de doutrina dos países amigos” a fim de melhorar o compartilhamento de conhecimentos e o “mútuo desenvolvimento da doutrina militar terrestre no âmbito internacional”. A China não está no rol dos países amigos.

Exército dos EUA. (Foto: Reprodução)

O primeiro ponto da pauta explicita o comprometimento político dos convidados: trata-se do conceito desenvolvido pelo exército estadunidense de “Operações Multidominio” (em inglês, Multi-Domain Operations), iniciativas desenvolvidas transversalmente em terra, no mar, no ar, no espaço e campo cibernético. Tal conceito vem sendo disseminado desde que os Estados Unidos definiram a China e a Rússia como ameaças ao seu poderio.

Os demais pontos da pauta relacionam-se ao primeiro: a busca de padronização de conceitos sobre a Guerra Híbrida visando combater atores estatais e não estatais por meio de capacidades convencionais e irregulares; os problemas para o emprego de forças blindadas e mecanizadas e a montagem de sistemas ofensivos remotamente pilotados.

Em Brasília, a máquina de guerra do “Ocidente” ajusta seus ponteiros.

O que Lula pretende ao permitir tal iniciativa? Onde quer chegar? Não percebe que um evento como esse aprofunda os laços do militar brasileiro com Washington e descredita seu discurso pacifista?

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