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Regresso de Lula em 2023 serviu para que Brasil normalizasse sua relação com a China, diz especialista

Os presidentes da China, Xi Jinping, e do Brasil, Lula. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O ano de 2023 serviu para que o Brasil “restabelecesse e normalizasse” sua relação com a China, graças ao regresso à presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, após os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, no qual, do lado brasileiro, se criou todo tipo de polêmicas e problemas para a relação, afirmou à Xinhua Ana Tereza Lopes Marra, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (Ufabc).

“Creio que podemos considerar este ano como um ano de renascimento das relações entre o Brasil e a China. Depois de um período muito turbulento, no qual tivemos duas lógicas de relações, separadas, digamos assim, com uma lógica da política e da diplomacia, e outra da economia. Isso ocorreu durante o governo Bolsonaro, quando aconteceram várias tensões político-diplomáticas com a China, brigas por Twitter, um horror, mas que não foram suficientes para afetar a dinâmica econômica da relação”, disse Ana Tereza em entrevista à Xinhua.

Segundo a especialista em Relações Internacionais, “inclusive durante esse período diplomaticamente ruim, as relações comerciais continuaram crescendo. O Brasil continuou recebendo investimentos chineses. Isso significa que a lógica das relações concretas, do dia a dia, dos fluxos comerciais, dos fluxos financeiros, continuou”.

“Temos um tipo de relação que não estava sendo mantida adequadamente, mobilizada adequadamente na diplomacia para que pudesse alcançar, digamos assim, os objetivos de desenvolvimento que o Brasil necessitava atingir. Creio que Lula está fazendo uma tentativa, embora só esteja há um ano no governo, de colocar essas duas relações no mesmo caminho e de compreender qual é a realidade das relações entre os dois países”, explicou Ana Tereza.

Para a professora de Relações Internacionais, que também é membro do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil, o país sul-americano “tem um grande superávit com a China. O Brasil não tem muitos países no mundo com os quais consiga superávits comerciais tão altos como acontece com a China e isto é muito importante para a nossa economia, embora esse seja um comércio que se baseia no intercâmbio de produtos básicos por produtos manufaturados”, comentou.

“Isto representa uma grande simetria em termos da importância que a China tem para nós e os efeitos que pode ter em nossa economia, se pensamos na possibilidade da indústria, da geração de produtos industriais, de trabalho decente”, afirmou.

Brasil e China assinaram 15 acordos de parceria durante viagem do presidente Lula. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Para Ana Tereza, “este ano, Lula tratou de voltar a colocar as relações diplomáticas e políticas em um mesmo patamar, que é o patamar que as relações merecem. Reconhecer a China como o parceiro estratégico que já é há muito tempo para o Brasil, reconhecer que os países têm várias agendas multilaterais nas quais podem trabalhar juntos, questões ambientais, questões relacionadas com a fome, a pobreza, a reforma das instituições globais…”

“Em resumo, Lula tratou de colocar essas relações diplomáticas com a China em um nível, que é o nível correto, tanto em termos do que o Brasil pode fazer multilateralmente com a China, como do que o Brasil pode fazer bilateralmente, mas, ao mesmo tempo, tratar de fazer um ajuste, que é chamar a China e tentar pensar dentro das relações Brasil-China, como estas relações econômicas podem falar mais com as necessidades do desenvolvimento nacional brasileiro”, comentou.

Para a especialista em Relações Internacionais, “o ano de 2023 foi uma espécie de convite do que a China pode fazer e pode oferecer ao Brasil, mas, também, do lado brasileiro, do que podemos oferecer. Creio que a China pode ajudar o Brasil em seu processo de neoindustrialização, que é um dos principais objetivos do governo Lula”, afirmou.

Nesse sentido, comentou que “embora o que mobiliza as relações Brasil-China sempre foi o agronegócio, se começar a incorporar a indústria, vai se querer outras coisas e também se começa a mobilizar outros grupos. Acredito que este é o principal desafio para os próximos anos. Conseguir mobilizar e interessar outros grupos nacionais para que pressionem as relações brasileiras de modo a que possam ser qualitativamente melhores do que já foram este ano”, concluiu.

Publicado originalmente na agência de notícias Xinhua

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