“Relação com deputados justifica investigação federal”, diz professora sobre médicos mortos no Rio

Atualizado em 6 de outubro de 2023 às 15:32
O médico Diego Bomfim, assassinado no Rio nesta quinta (5), e sua irmã, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP). Foto: Reprodução

Maria Carlotto, cientista social e professora da UFABC (Universidade Federal do ABC), defendeu a federalização das investigações sobre o assassinato dos três médicos na Barra da Tijuca (RJ) nesta quinta (5). O secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Renato Torres, afirmou que “não resta dúvida de que eles foram mortos por engano”, mas ela lembra de uma versão que quase fez com que o caso da vereadora Marielle Franco fosse concluído precipitadamente.

A cientista social diz que a possibilidade de que o caso tenha sido uma execução política já é o suficiente para uma investigação federal, já que poderia ter consequências “devastadoras” para a democracia. Uma das vítimas do crime foi Diego Bomfim, irmão da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP). 

Leia o texto na íntegra:

Quem leu “A república das Milícias”, de Bruno Paes Manso, vai se lembrar que o assassinato de Marielle Franco também foi “desvendado” por uma denúncia “informal” de um ex-PM, o miliciano Rodrigo Jorge Ferreira que atribuiu o assassino à quadrilha de Orlando Curucica, preso em Bangu 1 na época. A versão falsa parecia perfeita, circulou amplamente e foi imediatamente “aceita” pela grande mídia, que já praticamente dava o caso por resolvido.

A farsa só foi desmontada porque Curucica entendeu que haviam “embuchado” (o termo é usado justamente para falar de atribuição falsas de culpa) aquele assassinato de peso para ele e que, por isso, mesmo preso, ele corria risco de vida. Fez greve de fome para ser ouvido pelas autoridades do Rio, enquanto a Divisão de Homicídios estadual pressionava por uma confissão dele. Curucica só foi ouvido depois de ser transferido para o presídio federal de Mossoró, quando o Ministério Público Federal finalmente tomou seu depoimento, revelando o quanto a divisão de homicídios da polícia do Rio estava comprometida com as milícias.

Está tudo muito bem contado lá no livro do Bruno Manso, num capítulo que se chama “Marielle e Marcelo”, dedicado aos dois parlamentares do PSOL.

Foi por isso que eu defendi, ontem, a federalização imediata das investigações desse triplo assassinato na Barra da Tijuca.

A simples hipótese de que possa ter relação com a atuação de deputados federais, na minha opinião, justifica uma investigação federal. Porque mesmo sendo só uma hipótese, as consequências para a democracia são tão devastadoras, que não se pode brincar com isso.

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