Repórter do DCM que investigou gabinetes do ódio é ameaçado de morte, e suspeito é ex-assessor do deputado Conte Lopes

Atualizado em 2 de outubro de 2020 às 23:22
Deputado Conte Lopes. Foto: Divulgação/Alesp

O Diário do Centro do Mundo publicou no dia 27 de setembro uma reportagem com o título “Bolsonarismo sem Bolsonaro: MamãeFalei contra Padre Júlio e a nova onda de ódio nas redes sociais“. O texto, assinado por Pedro Zambarda, aborda a onda de ódio nas redes sociais de representantes da direita fora do círculo dos apoiadores mais próximos de Jair Bolsonaro.

Narra como o youtuber do MBL, Arthur ‘MamãeFalei’ Moledo do Val, promoveu ataques covardes contra o padre Júlio Lancelotti, que ajuda moradores de rua, e teve impulsionamento de perfis anônimos, fakes e bots com linguagem de extrema direita.

Além desta história, o texto aborda o caso que supostamente envolve o ex-assessor do deputado estadual Conte Lopes, do PP, Leonardo Antonio Corona Ramos.

Ele teria feito ameaças à jornalista Patrícia Lélis, inclusive em mensagens de WhatsApp.

Leonardo Antonio Corona Ramos. Foto: Reprodução

A reportagem procurou o deputado Conte Lopes por email e publicou, no mesmo espaço, sua resposta, em que afirma que Patrícia Lélis teria mentido e que não tem ligação com as atitudes do seu ex-assessor.

O DCM buscou ouvir também o engenheiro Corona.

Por conta da reportagem publicada, a namorada de Corona entrou em contato por WhatsApp no próprio dia 27 e fez ameaças, mas não tão contundentes quanto a que seriam feitas dois dias depois a partir de um número de telefone usado pelo próprio ex-assessor de Conte Lopes. Corona escreveu o seguinte:

“Seu filho de uma putinha. Escuta aqui, quem você acha que é para postar uma matéria defendendo uma puta mitomaníaca? Você não tem medo de apanhar na rua seu gay de merda? Você deveria pensar muito bem antes de postar coisas envolvendo o Conte e todas essas suas fantasias. Seu merda. Apaga o c*ralho dessa matéria seu filho de uma puta! Jornalista de merda. Quer dar o cu? Acha quem quer te comer seu bosta. Tá recebendo quanto pra postar essa merda?”.

O DCM manteve a grafia original, com os erros grosseiros de pontuação.

No mesmo dia, o suposto Corona incluiu o número do repórter do DCM em um grupo de WhatsApp. E então cometeu um crime ainda mais grave do que os de injúria, calúnia e difamação.

Do telefone usado pelo ex-assessor de Conte Lopes, foi feita uma ameaça de morte. Escreveu:

“Esse vai ser o último aviso que eu vou dar. Apaguem a matéria envolvendo meu nome. Porque se não a próxima matéria vai ser de quantos tiros vocês levaram”.

Após a ameaça, o DCM voltou falar com a jornalista Patrícia Lélis, e confirmou que o número de telefone era o mesmo de Corona. Ela já o conhecia antes de sofrer os primeiros ataques.

Patrícia afirma que a namorada do ex-assessor a abordou na Câmara dos Deputados em 2017, quando ela já tinha se desligado da direita e de políticos como Marco Feliciano, e passou a militar pelas pautas progressistas.

A namorada de Corona teria pedido uma foto, e dito que trabalhava para um advogado do MDB. Ela teria insistido para tomarem um café, e continuou acompanhando a jornalista em eventos fora de Brasília. “Ela me fazia perguntas estranhas. Queria saber, por exemplo, quem pagava meu salário”, diz Patrícia.

Quando a jornalista bloqueou a namorada de Leonardo Corona nas redes sociais, ele começou a fazer os ataques diretos, inclusive por meio de seu número privado.

Segundo Patrícia, a onda de ataques piorou quando ela descobriu e denunciou que Corona tinha sido acusado de ser funcionário fantasma de Conte Lopes. “E ele possui uma amizade com Carlos Bolsonaro”, completa.

As ameaças feitas supostamente por Corona ao jornalista Pedro Zambarda foram relatadas na manhã de hoje ao 18o. Distrito de Polícia, no Alto da Mooca, São Paulo, que decidiu encaminhar o BO para o 51o. Distrito de Polícia, no Rio Pequeno, onde será realizado o inquérito.

Ameaças são inadmissíveis em qualquer circunstância e contra qualquer cidadão. Mas, ao ter como vítima um jornalista, o caso se reveste de maior gravidade.

É a liberdade de expressão e também a de imprensa que são ofendidas. O DCM procurou Corona antes da reportagem que o enfureceu. Ele não se manifestou. Publicou também a resposta do seu ex-chefe, como recomenda a boa prática jornalística.

Caso Corona seja o autor da ameaça, é bom que saiba que não terá êxito se a tentativa for intimidar o DCM e seus profissionais. Atitudes como essa merecem o repúdio de todos os democratas.

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