Saiba quem são os líderes ruralistas que participaram de ato pró-Bolsonaro na Paulista

Atualizado em 29 de fevereiro de 2024 às 10:44
Políticos bolsonaristas participam de ato pró Bolsonaro na Paulista, SP, no domingo (25). (Foto: Reprodução)

Carolina Bataier

Realizada no dia 25 de fevereiro, data em que é celebrado o Dia do Agronegócio, a manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista teve a presença de 19 líderes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), entre deputados e senadores. Desses, 14 são correligionários do Partido Liberal (PL) e quatro integram o Partido Progressistas (PP) que, desde setembro, integra a base do governo Lula. Completa a lista o PSDB, representado pelo senador Izalci Lucas, do Distrito Federal.

Diretora da FPA, Carla Zambelli disse que as “botinas Bolsonaro” vão virar moda. (Foto: Reprodução/Instagram)

Presidente da FPA, o deputado Pedro Lupion (PP-PR) vestiu a camiseta verde e amarela da seleção brasileira e posou para uma foto ao lado dos governadores Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). A imagem foi publicada no Instagram e no Twitter do paranaense com a legenda “acompanhando a manifestação do povo brasileiro”.

Nos vídeos de convocação da manifestação, publicados em suas redes sociais, Bolsonaro adotou tom de fala moderado e informou que se tratava de um ato em defesa do Estado Democrático de Direito. “Nesse evento, eu quero me defender de todas as acusações que vêm sendo imputadas à minha pessoa nos últimos meses”, ressaltou, em referência à operação da Polícia Federal que investiga o ex-presidente pela tentativa de golpe de estado do dia 8 de janeiro de 2023.

Em seu discurso na Avenida Paulista, Bolsonaro questionou a acusação. “Golpe é tanque na rua, é arma, é conspiração, é trazer classes políticas pro seu lado, empresariais”, disse o ex-presidente no carro de som. “Nada disso foi feito no Brasil”. No discurso, Bolsonaro chamou de “pobres coitados” os participantes do quebra-quebra em Brasília.

Divulgado em outubro de 2023, o relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas apresentou uma lista com dezesseis financiadores do movimento que resultou na invasão e depredação do patrimônio público. Desses, treze são fazendeiros, conforme noticiou o De Olho nos Ruralistas: “Entre 16 financiadores do golpe denunciados por CPMI,13 são fazendeiros“.

BASE DE LULA, PP MARCOU PRESENÇA EM ATO BOLSONARISTA

Pedro Lupion pertence a uma linhagem de ruralistas paranaenses, composta pelo ex-deputado Abelardo Lupion e pelo ex-governador Moisés Lupion. O apoio dele a Jair Bolsonaro contou com o coro de outros três colegas de partido, o mesmo do presidente da Câmara, Arthur Lira. Vice-presidente da FPA na Câmara, o capixaba Evair de Melo (PP), da bancada do café, viajou a São Paulo para a manifestação e compartilhou vídeos homenageando o ex-presidente e a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro.

Ele foi um dos líderes da bancada ruralista que receberam financiamento de campanha de fazendeiros com imóveis sobrepostos a terras indígenas, conforme revelado pelo relatório “Os Invasores: parlamentares e seus financiadores possuem sobreposições em terras indígenas“, produzido por este observatório. Evair recebeu R$ 20 mil de Adelar Mateus Jacobowski, sócio da Agropecuária São Gabriel, que disputa uma área limítrofe à TI Menkü, no Mato Grosso.

O mesmo tipo de financiamento beneficiou a campanha de outro nome de peso do PP, o senador gaúcho Luis Carlos Heinze. Atualmente ocupando o cargo de “vogal” — uma espécie de conselheiro — da FPA, o negacionista climático Heinze recebeu durante a campanha de 2018 uma transferência no valor de R$ 100 mil de Wanda Inês Riedi, diretora da empresa I. Riedi, um dos cem maiores conglomerados do agronegócio brasileiro. A empresa disputa terras com indígenas da TI Tekohá Guasu Guavirá, em Terra Roxa (PR), e é dona de 6.312,86 hectares sobrepostos às TIs Porquinhos e Kanela Memorturé, no Marnahão.

Vice-presidente da FPA para a região Norte, o deputado Vicentinho Junior (PP-TO) também vestiu verde e amarelo e foi para a Avenida Paulista no domingo. Ele é investigado por usar recursos da cota parlamentar para comprar um carro no valor de R$ 100 mil. O veículo adquirido com dinheiro público foi registrado em nome da irmã do deputado.

Apesar da presença dos parlamentares, o PP integra oficialmente a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em setembro de 2023, o presidente da Câmara Arthur Lira negociou a adesão da sigla ao governo. Em troca, o líder do Centrão recebeu a presidência da Caixa Econômica Federal e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), além do Ministério dos Esportes, onde emplacou seu aliado André Fufuca (PP-MA). Apesar da entrega de cargos, o bloco rachou nos meses seguintes: um grupo de parlamentares se amotinou e declarou não pertencer à base governista.

ALA RURALISTA DO PL TAMBEM SE CONECTA A INVASORES DE TERRAS INDÍGENAS

O deputado Domingos Sávio (PL-MG), vice-presidente da FPA na região sudeste, acompanhou a manifestação do alto do trio elétrico principal, perto do ex-presidente Jair Bolsonaro. Agropecuarista, Sávio tem entre os financiadores da sua campanha o fazendeiro Adelar Mateus Jacobowski, titular da Fazenda Frei Gabriel, que se sobrepõe aos limites da TI Menkü, em Mato Grosso.

No grupo de integrantes da FPA com campanha financiada por invasores de terras indígenas, estavam os deputados Marcos Pollon (PL-MS), da Comissão de Segurança no Campo; e Rodolfo Nogueira (PL-MS). Na campanha de 2022, eles receberam dinheiro dos fazendeiros Rovilson Alves Correa e Walter Romeiro Beloto, respectivamente, cujas fazendas incidem em TIs no Mato Grosso do Sul.

Entre os manifestantes com cargos de destaque na FPA estavam as deputadas Caroline de Toni (PL-SC), da Coordenação Jurídica da FPA; Coronel Fernanda (PL-MT), da Comissão de Defesa Vegetal e Bia Kicis (PL-DF), da Comissão de Alimentação e Saúde; e os deputados Giacobo (PL-PR), da Comissão de Orçamento; e Zé Vitor (PL-MG), da Comissão do Meio Ambiente.

Amigo íntimo de Bolsonaro, o deputado e ex-policial militar Alberto Fraga (PL-DF) usou o Instagram para convidar seus seguidores para o evento. Na FPA, ele é vogal, cargo equivalente ao de conselheiro. Entre os políticos com cargo de vogal, marcaram presença na manifestação bolsonarista os deputados Giovani Cherini (PL-RS), José Medeiros (PL-MT) e Roberta Roma (PL-BA), esposa de João Roma, presidente do PL na Bahia, que também vestiu verde e amarelo e posou ao lado de Lupion.

Para participar da manifestação, o senador Jorge Seif (PL-SC) alterou a data de uma viagem de trabalho e gerou um gasto público no valor de R$30 mil, conforme noticiou o UOL. No Instagram, ele publicou um carrossel de imagens, onde posa ao lado de outros apoiadores de Bolsonaro, como os senadores Magno Malta (PL-ES) e Márcio Bittar (UB), eleito pelo Acre, estado que, no dia da manifestação, tinha 17 dos 22 municípios em estado de emergência devido a enchentes.

A deputada Carla Zambelli (PL-SP) aproveitou a ocasião para fazer propaganda de uma marca de calçados que leva o nome do ex-presidente. Em um vídeo publicado no Instagram minutos antes do início da manifestação, Zambelli olha para a câmera e saúda seus seguidores: “E aí, pessoal, tudo bem? Chegando na Paulista com um detalhe”. Então, ela se abaixa e aponta para a botina, onde se lê “Bolsonaro” bordado em azul, entre uma faixa verde e outra amarela. “Vai virar moda”, afirmou.

O calçado é de uma marca criada por apoiadores do ex-presidente e tem como slogan a frase “Passos firmes com o agro”.

Originalmente publicado em De Olho nos Ruralistas

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