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“Sangue na rua”: por que não houve golpe, segundo o general Tomás Paiva

O comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. FOTO WILTON JUNIOR / ESTADAO

O comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, expôs em uma conversa com seus subordinados as razões pelas quais o Exército se distanciou do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e rejeitou a tentativa de golpe de 8 de janeiro, conforme informações do colunista Marcelo Godoy, do Estadão.

O relato de Tomás coincide, em linhas gerais, com o dos ex-comandantes ouvidos pela PF. Parte dele, no entanto, complica a situação de Bolsonaro e isenta o Exército. O áudio foi gravado clandestinamente por um militar em 18 de janeiro de 2023. Era uma reunião do general Tomás, então comandante militar do Sudeste, com seu Estado-Maior, logo depois de uma cerimônia em homenagem aos mortos da Força de Paz, no Haiti:

“Teve uma nota à imprensa (dos comandantes das Forças), que foi emitida, e foi uma orientação generalizada: os caras estão manifestando. Havia um entendimento do comandante em chefe das Forças Armadas, que era o presidente da República, de que não era para mexer, que aquilo ali era legítimo. Ninguém se manifestou para nada. A Justiça não se manifestou, Ministério Público não se manifestou; não teve nada. Ninguém pediu para tirar.”

O trecho conecta o Planalto às manifestações que culminaram na Festa da Selma, vista como o plano B do bolsonarismo para o golpe, após a recusa dos comandantes das Forças em apoiar a intentona.

Ao mesmo tempo, sugere uma defesa prévia dos comandantes militares, feita em depoimentos à PF e às CPIs, frente às acusações de leniência com os manifestantes. Esses detalhes foram revelados em janeiro de 2023.

“Eu falei de 1º de novembro a 31 de dezembro. Por quê? Mas quem era o governo de 1.º de janeiro ao dia 8? O atual governo. E qual a ordem que teve para retirar? Nenhuma. Não teve ordem. Porque a expectativa era que o movimento ia naturalmente se dissolver. O que não ocorreu em Brasília”, disse.

“No dia 8, a gente teve um evento inaceitável em qualquer circunstância. Vandalismo. Projetou a imagem negativa do Brasil no mundo e, do ponto de vista estratégico, fortalece o adversário. Aí deu problema. Aí, no dia 9, nós tivemos ordem para retirar. Aqui no Estado de São Paulo não tivemos um problema.”

General Tomás Miguel Ribeiro Paiva. FOTO: reprodução

Em outro momento, Tomás Paiva passou a analisar as fotografias dos ataques promovidos por bolsonaristas à sede dos Três Poderes, na capital federal. O comandante foi duro ao condenar os atos, mas evitou classificá-los como golpe ou terrorismo.

“Aqui as cenas deploráveis e lamentáveis. A gente deu ferramenta para o cara (Alexandre de Moraes) chamar de terrorista. Isso aqui é vândalo, isso é maluco, é cara que entrou em espiral de fanatismo que não se sustenta. O que produziu? Nada. O cara cagou na cadeira do Supremo. O que isso muda? Muda p* nenhuma”, disparou.

“Se nego (sic) destruísse, jogasse uma bomba no Palácio presidencial, ele ia despachar de outro palácio. Que coisa infantil, burra, eles entregaram um salvo-conduto enorme para uma narrativa que a gente está vendo que está sendo estabelecida agora.”

Tomás, então chegou à razão de o golpe ter sido rejeitado pelos militares. Ele leu o que estava escrito em um cartaz de um manifestante: “Intervenção militar com Bolsonaro na Presidência”. Em seguida, o militar fez seu comentário:

“Impossível de fazer. A gente viu as consequências disso. Vocês viram a repercussão mundial. Imagina se a gente tivesse enveredado para uma aventura? A gente não sobreviveria como País; a moeda explodiria. A gente ia levar um bloqueio econômico jamais visto. Você ia ficar um pária, e o nosso povo ia sofrer as consequências. Ia ter sangue na rua. Ou você acha que o povo ia ficar em casa. Não ia acontecer.”

O general ainda concluiu: “Coragem é o reverso. A coragem é a gente se manter instituição de Estado, mesmo que isso custe alguma coisa de popularidade. Não interessa; isso você recupera. Mergulharíamos o País no caos”.

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Yurick Luz

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