“São Paulo merece”, diz deputado que premiou Alckmin pelo trabalho na Sabesp. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 23 de setembro de 2015 às 19:52
Papa, o deputado do PSDB responsável pela premiação de Alckmin
Papa, o deputado do PSDB responsável pela premiação de Alckmin

 

João Paulo Tavares Papa foi prefeito de Santos entre 2005 e 2009. Saiu do PMDB, seu partido de origem, para se filiar ao PSDB em 2013. Hoje é deputado federal por São Paulo.

O tucano é responsável pela indicação do governador Geraldo Alckmin ao Prêmio Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação 2015 promovido pela Câmara em Brasília, durante a abertura do 3º Seminário Internacional de Mobilidade e Transportes em 13 de outubro.

“Modéstia à parte, [o prêmio] é merecido”, disse Alckmin nesta quarta-feira (23) em coletiva de imprensa. O governador receberá o reconhecimento por seu trabalho à frente da Sabesp.

Para entender as razões por trás da premiação de Geraldo Alckmin, enquanto os sistemas Cantareira e Alto Tietê se mantém em cerca de 15% e a seca virou rotina do paulista, o DCM foi conversar com o deputado.

Quais foram os critérios que vocês usaram para escolher o governador Alckmin?

O Prêmio Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação possui áreas diferentes que tiveram critérios diferentes de seleção. No caso de saneamento básico, nós temos uma intercomissão, dentro da comissão principal, que avaliou a universalização deste tipo de serviço no Brasil. Eles trabalharam muito no começo do ano.

Por que nós fizemos essa pesquisa? Porque mais da metade da população brasileira não tem rede de esgoto. Nós temos um plano que foi aprovado em 2013 que prevê a universalização do serviço até 2033, ou seja, em 20 anos. No ritmo atual de investimentos realizados no país, nós não vamos atingir esse nível das redes nem em 70 anos.

A Sabesp e o governo paulista destoam dessa situação nacional, completamente. Já universalizou na cidade de São Paulo e caminha para isso na região metropolitana. Há um relatório de especialistas no setor, em sintonia com a Organização Mundial de saúde, que prevê que cada real investido em saneamento gera uma economia de 4,3 reais em saúde pública. Ou seja, a falta de saneamento mata e adoece.

Analisando o quadro do país, São Paulo é o melhor dos mundos, com o melhor modelo. É o estado que mais investiu nas duas últimas décadas, continua aplicando dinheiro e, pelos indicadores, não há nenhuma dúvida da competência paulista na área de saneamento. É isso que a gente busca na comissão que avaliou o prêmio. Queremos buscar caminhos no Brasil para diminuir a desigualdade, enorme em setores importantes como o de saneamento.

Mas como vocês chegaram até o nome de Alckmin e não no da Sabesp?

Nesta linha de raciocínio, chegamos até o governador de São Paulo, que é o Geraldo Alckmin. A comissão foi até o estado, conhecemos as obras, os sistemas e o enfrentamento da crise e voltou com uma impressão muito diferente do que tinha antes de conhecer tudo. É mais por isso que o escolhemos, pelo bom desempenho paulista na área de saneamento básico.

A Sabesp é a maior empresa de saneamento do Brasil. Estamos enfrentando a maior seca em 80 anos, mas o governador vem errando há muito tempo… 

Olha, essa premiação é para um projeto que vê a política de longo prazo de um estado nacional, em relação aos demais. Não estamos premiando a crise, nem contra a crise e nem a favor dela (risos). A crise hídrica vai passar, tá certo?

Estamos diante de uma crise climática, completamente imprevisível e é a mais severa dos últimos anos. É uma seca que acontece na maior região com saneamento do país. São Paulo é o maior estado que necessita de abastecimento. São mais de 20 milhões de pessoas concentradas em uma região de cabeceira de rios.

Os métodos que a Sabesp está adotando para enfrentar a crise são defendidos pelo governo do estado. No entanto, é óbvio que existem posições conflitantes neste enfrentamento. Há quem critique que não deveria ter isso e que deveria se fazer aquilo. Até que a crise está controlada, embora não se tenha ainda um ritmo de chuvas normais.

O sistema Cantareira há três anos transbordava água. Hoje a situação é muito diferente e exige dos engenheiros e dos técnicos que eles repensem todo o modelo de gestão desse sistema da grande São Paulo. Mas é uma crise pontual, que vai passar, e o governo tomou as decisões que precisava tomar.  Transposições de água que não eram previstas para agora já estão sendo feitas. Há um esforço do estado de São Paulo, não só da Sabesp, que está universalizando o saneamento.

Há investigações no Ministério Público de São Paulo que apontam que a Sabesp formou cartel de empresas terceirizadas, há relatos de demissões e até obras de milionárias com um rio seco. Não falta gestão? O governo, como controlador da empresa, não poderia interferir?

Essa premiação, repito, não é para a Sabesp. A empresa não está sendo premiada e sim o estado por ter um sistema de saneamento universal, o que ainda destoa do restante do Brasil. O modelo de São Paulo é um exemplo do que deve ser aplicado em outros estados nacionais.

As polêmicas, e os crimes, devem ser devidamente investigados pelas autoridades, tanto do Ministério Público como em outras instâncias. Mas o trabalho de saneamento, não o da crise hídrica, foi reconhecido por esta comissão que eu mencionei.