Sem água e abrigo, pessoas na rua enfrentam desafios extremos na onda de calor

Atualizado em 11 de novembro de 2023 às 20:57
Desabrigados em barracas em SP. Foto: Nelson Almeida / AFP

O Brasil pode viver nos próximos dias a maior onda de calor da história, com temperaturas superiores a 42 graus e mais de mil municípios em alerta para grande perigo, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. Para a população em situação de rua, o cenário se soma aos desafios diários de sobrevivência. Sem acesso a hidratação e abrigo esse grupo está sujeito às piores consequências das condições térmicas extremas, que podem levar, inclusive, à morte.

Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, o Brasil tem hoje mais de 230 mil cidadãos e cidadãs sem moradia, vivendo nas ruas. A região Sudeste, que está na lista dos alertas meteorológicos para os próximos dias, concentra 62% dessas pessoas, um total de 138 mil.

No Centro-Oeste, que também enfrenta temperaturas altíssimas, o número de pessoas em situação de rua é bem menor, soma 14,8 mil. Ainda assim, os estados da região presenciaram um aumento expressivo desses grupos nos últimos anos. Entre 2016 e 2023 o número de pessoas que vivem nessa condição escalou quase cinco vezes.

Em algumas cidades de São Paulo, incluindo a capital, o governo montou estruturas com água, ambulâncias e acolhida desde que que começaram os eventos climáticos de calor extremo em setembro. No entanto, não há registros de ação em outras unidades da federação e mesmo no estado paulista, as políticas não são suficientes.

Criminalização e preconceito, a dura realidade das pessoas em situação de rua

O padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, afirma que o acesso à água potável, um dos bens mais escassos para as famílias que moram nas ruas do Brasil, é essencial, mas não é a única medida a ser aplicada.

“As mudanças climáticas e o calor excessivo castigam de maneira muito forte a população em situação de rua. Por isso, solicitamos e a prefeitura instalou as tendas de altas temperaturas, onde nós pedimos que sejam colocados água, frutas e kit de proteção, como o boné. Mas o número de tendas não é suficiente, precisaríamos ter mais, principalmente em áreas que ficam sem nenhuma estrutura de proteção.”

Segundo Inmet, este inverno foi o mais quente da cidade de São Paulo desde 1961, com uma média de temperatura de 26°C. Foto: Reprodução.

Previsão

A onda de calor deve durar pelo menos até o fim da semana que vem. Segundo a MetSul Meteorologia, existe “alta probabilidade de quebra de recordes”.

Mesmo em locais que costumam apresentar tempo quente com mais frequência e intensidade, o clima deve supreender. A MetSul Meteorologia projeta temperaturas máximas “muito fora do comum, com marcas 10ºC a 15ºC acima da climatologia histórica em algumas tardes”.

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as altas temperaturas vão afetar principalmente as regiões Centro-Oeste e Sudeste, com destaque para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal.

Brasil pode viver onda de calor mais intensa da história nos próximos dias

Em algumas cidades o fenômeno pode se estender por até quinze dias. O alerta da MetSul explica que essas regiões poderão presenciar massas de ar quente com temperaturas acima de 30 graus, o que se assemelha aos registros de algumas das regiões mais quentes do mundo.

“Valores acima de 30ºC acompanham massas de ar extraordinariamente fortes e que normalmente são vistas durante calor extremo no Sudoeste dos Estados Unidos ou no Oriente Médio”, destacou o texto, reforçando que essas condições raramente são registradas no Brasil.

Publicado originalmente no Brasil de Fato.

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