Servidores públicos desafiam os chefes golpistas. Por Moisés Mendes

Atualizado em 22 de fevereiro de 2023 às 16:41
Presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reuters

Por Moisés Mendes

A nota pública que mais feriu Bolsonaro, entre as muitas emitidas nos últimos dias por servidores públicos em defesa do sistema eleitoral e das urnas eletrônicas, certamente foi a da União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis).

Os servidores da Abin afirmam que confiam no sistema de votação porque não há qualquer registro de fraude nas urnas desde a implantação do voto eletrônico em 1996.

Bolsonaro não esperava o que deve considerar uma traição. Sua arrogância misturada à ignorância sempre o levou a pensar que o governo controla tudo, principalmente os servidores da área de inteligência.

Na cabeça limitada de Bolsonaro, a Abin e a Polícia Federal deveriam estar a serviço dele e dos filhos dele, como o sujeito deixou claro naquela famosa reunião de abril de 2020, quando humilhou Sergio Moro por inoperância na PF.

Bolsonaro queria ser protegido por um núcleo de informantes, não do governo, mas do núcleo familiar, e se sentia mal informado sobre as investidas de inimigos contra os garotos.

Por causa da sua ignorância, mais do que pela arrogância, a PF trabalharia para ele, como se fosse um prolongamento da Abin, fornecendo inclusive informações sobre inquéritos, como o próprio Moro denunciou depois daquela reunião. E que agora PF e Abin trabalhariam pelo golpe.

Pois o pessoal da Abin e mais os delegados e peritos da Polícia Federal, além dos procuradores, avisaram a Bolsonaro que repudiam o blefe de que as urnas são um problema.

Nem o recado enviado pelo governo americano, através da embaixada e do porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, de que o sistema eleitoral do Brasil tem reconhecimento mundial, abalou tanto Bolsonaro.

As notas dos quadros da PF e da Abin são uma afronta ao terrorista e às chefias das organizações.

Assim como o manifesto da Associação dos Diplomatas Brasileiros, que significa uma derrota dos controles que vinham sendo aplicados até agora pela cúpula do Itamaraty.

Os servidores estão dizendo a chefes eventuais que não vão se submeter aos seus comandos de forma incondicional.

Se ainda estivessem submissos aos gerentões de Bolsonaro, não teriam emitido as notas em que desafiam a linha extremista seguida pelas corporações.

Os servidores dizem aos chefetes o que deve ser dito: os subalternos eventuais de Bolsonaro um dia deixarão os cargos, mas eles, os funcionários de carreira, ficarão.

Bolsonaro sabe agora, como nunca soube antes, que não tem o controle de setores do governo que ele considerava a serviço do golpe.

Bolsonaro só manda hoje no seu grupo de generais e no centrão, mas sabe que não pode confiar em nenhum deles.

(Texto originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes)

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