No último capítulo, conheci Luís – um psicólogo charmoso que encontrei em um evento de trabalho. Fui parar na sua cama. Raparei, contente, que tínhamos outras afinidades além do estritamente sexual; nos comunicávamos bem. Tínhamos alguma conexão que me despertava um erotismo terno.
Ele me provocara uma empatia imediata e me despertara sensações inebriantes. Eu diria que me apaixonei, não fossem os fatos que sucederam a esta noite quase inesquecível.
Ele definitivamente era do tipo que ligava no dia seguinte. Ao chegar em casa, depois de um dia cheio de trabalho e sem tempo para atender ligações pessoais, me deparei com a mensagem: “Tente não ficar tanto tempo sem falar comigo.”
Passado o estranhamento inicial, senti um medo avassalador de que ele – ou quem quer que fosse – me tirasse a liberdade que me impreguina até os poros. Eu não permitiria isso nem pelo melhor sexo da minha vida.
Mesmo assim, resolvi lhe dar outra chance, para me certificar de que o meu receio tinha algum fundamento. Liguei de volta, conversamos por alguns minutos e marcamos um barzinho.
Ele fez questão de me buscar, com uma pontualidade britânica. Fomos a um bar charmoso, com luz baixa e cerveja gelada. Ele me fez um interrogatório digno de uma investigação policial. Perguntou quantos parceiros eu já tivera, se era adepta a relacionamentos abertos (porque isso o apavora), se gostava de sair sozinha e se tinha muitos amigos homens. O meu desconfiômetro apitou ainda mais alto: é cilada.
Pus fim ao interrogatório convidando-o para sair dali. Era a nossa última noite, eu sabia – jamais me relacionaria com alguém que me faz um interrogatório no segundo encontro.
Chegamos à casa dele. Ele abriu um vinho. “Bem, pelo menos terei um sexo bom”, pensei.
Depois de algumas taças, eu estava suficientemente malemolente para arrancar-lhe as roupas e o pudor. Tomei a iniciativa. Afastei uma taça posicionada entre nós dois, puxei-o para mais perto e lhe dei um daqueles beijos que acontecem claramente como prenúncio para o sexo.
Passei pelo seu corpo com um desejo quase apressado, enquanto passava a língua pelo seu pescoço e respirava, ofegante, em seu ouvido. Senti-o rígido sob a cueca preta, explorando-o enquanto olhava-o nos olhos, fixamente.
Ele entendeu o recado.
Beijou-me de volta, acariciando minhas costas por baixo da blusa fina e chegando até os meus seios (livres, já que não gosto de sutiã). Afastou meu cabelo e continuou a cena terna – terna demais para o meu gosto. Eu fazia um esforço descomunal para não broxar.
– Vire de costas. – ele pediu, seco.
Obedeci, acreditando que ele finalmente conseguiria me excitar. Ele me despiu devagar e começou a beijar-me o pescoço – não beijos sensuais, como se pode imaginar, mas beijinhos carinhosos, daqueles que você dá nos bebês. Penetrou-me devagar, acelerando gradualmente. Em um tempo que me pareceu curto demais, ouvi seu gemido abafado – ele terminara.
Olhei-o e ele sorriu, ligeiramente constrangido. Eu não tivera o mais vago resquício de prazer. Poderia ter sido pela rapidez, pelos selinhos no pescoço ou pelo interrogatório no bar, mas não: eu senti falta dos puxões de cabelo, dos cochichos ao pé do ouvido, de ter o corpo explorado à exaustão.
Senti falta de suas mãos ousadas, de seus beijos lascivos, de sua língua me percorrendo. Sexo e carinho não combinam quase nunca – e, naquela noite, era sexo que eu queria.
“Coisas da vida”, pensei, enquanto me vestia, emburrada.
– O que foi, docinho?
– Acho que preciso ir pra casa.
No caminho de volta, ele quebrou o silêncio quase ensurdecedor com uma constatação inteligente:
– Você é tão livre. Tô com medo de você me escapar no próximo final de semana.
E, a essa altura, ele não imaginava o quão grande era o risco de eu escapar-lhe por todos os finais de semana da minha vida.
Entrei em casa e ainda estupefata com o fiasco daquela noite, fui surpreendida com uma mensagem infinitamente mais estimulante do que aquelas últimas horas:
– Lembra de mim?
Sim, eu me lembro. E vocês se lembrarão no próximo capítulo.
[continua]
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