Sífilis exportada

Atualizado em 30 de agosto de 2011 às 18:19
O médico americano John Cutler no começo da década de 1960 com cobaias extraídas da comunidade negra do Alabama

Por que os americanos são tão detestados?

Razões não faltam. Uma das maiores é a percepção, espalhada pelo mundo,de que eles acham que podem tudo.

Podem, até, fazer experimentos médicos sinistros em outros países.

Emergiu recentemente a informação de que nos anos 40, sob Truman, médicos americanos patrocinados por fundos públicos testaram na Guatemala a penicilina no combate a doenças venéreas como sífilis e gonorréia. Mas atenção. Não apenas as cobaias humanas ignoravam o que estava sendo feito com elas como foram propositadamente infectadas. O objetivo é que ficassem doentes para que depois fossem testados medicamentos. O governo guatemalteco foi conivente. Na época, a Guatemala era a quintessência da República das Bananas. A companhia americana United Fruits virtualmente mandava na Guatemala, onde produzia frutas para exportar. Bananas eram o principal produto.

Centenas de pessoas foram utilizadas nas experiências. Calcula-se que 83 tenham morrido. Prostitutas e presos foram o alvo maior. Na época, era permitido na Guatemala que prostitutas visitassem presos. Os pesquisadores americanos escolhiam as que tinham sífilis para contaminar os presos em encontros sexuais patrocinados por dinheiro oriundo do contribuinte americano.

O chefe da equipe era o médico John Cutler, conhecido como o “Mengele” americano.

Os estudos eram secretos. Quem os descobriu foi uma historiadora americana especializada em medicina. Ela teve acesso à papelada do médico que chefiou os experimentos. Passou o que achou às autoridades de saúde pública dos Estados Unidos.

O governo Obama pediu oficialmente desculpas à Guatemala. Mas não deu nenhum passo em relação à indenização das famílias das cobaias humanas. Entre os guatemaltecos, a expectativa era que fossem feitos acordos à margem dos tribunais. Sem isso, é previsível uma enxurrada de ações indenizatórias.

Antes da descoberta da historiadora, o caso era tratado basicamente como “mito” na comunidade médica americana. Mas não. Era realidade – uma realidade macabra, perversa, assassina.