Sob Bolsonaro, Abin fez pelo menos 10 mil consultas ilegais com programa espião

Atualizado em 24 de fevereiro de 2024 às 19:47
Bolsonaro e Ramagem, ex-diretor da Abin. Foto: reprodução

Durante a gestão de Jair Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) efetuou aproximadamente 10 mil consultas informais no sistema de vigilância FirstMile, sem que isso estivesse vinculado a uma operação oficial do órgão.

A ferramenta de origem israelense foi empregada para rastrear a localização de pessoas por meio dos dados de seus celulares. Na relação de alvos monitorados pela agência, constam figuras políticas, assessores parlamentares, ativistas ambientais, motoristas de caminhão e acadêmicos.

Os registros do FirstMile indicam que a Abin utilizou o sistema entre fevereiro de 2019 e abril de 2021. Nesse período, cerca de 60 mil consultas foram realizadas no programa de espionagem, utilizando números de celulares dos alvos monitorados pela agência.

Somente nos meses de setembro e outubro de 2020, antecedendo as eleições municipais, foram feitas 35 mil pesquisas na ferramenta israelense.

Inicialmente, a ferramenta era acessada por meio de sete computadores com permissões restritas. Com o tempo, o uso da ferramenta foi estendido para a “equipe de busca”, “coordenação de fontes humanas” e “setor responsável pela proteção presidencial”, conforme registros internos da Abin.

Um único membro da Abin realizou 33.225 consultas no FirstMile, enquanto outro integrante fez 11.763 pesquisas na ferramenta de espionagem. Há evidências de compartilhamento de senhas de acesso, indo contra as diretrizes de segurança da própria agência.

Sede da Abin, em Brasília. Foto: Reprodução

Embora as consultas no FirstMile devessem estar associadas a operações específicas registradas no sistema da Abin, nem todas seguiam esse procedimento. Alguns pedidos de consulta eram feitos por meio de WhatsApp e por membros da agência que não tinham permissão para acessar o programa.

A prática de espionagem ilegal pela Abin foi revelada em março do ano passado e está sob investigação da Polícia Federal desde então. A Abin destaca, em nota, que está empenhada em uma investigação rigorosa dos fatos e continuará colaborando com as investigações.

Um dos episódios informais da Abin ocorreu entre junho e julho de 2019, quando surgiu o perfil “Pavão Misterioso” nas redes sociais. A conta anônima no Twitter espalhava informações falsas sobre políticos de esquerda. Durante esse período, membros da Abin passaram a monitorar Jean Wyllys e David Miranda, oponentes da família Bolsonaro.

Em junho de 2019, um arquivo chamado “pavão.pdf” foi salvo nos registros da agência, contendo uma reprodução de pesquisas realizadas em nome de Wyllys, Miranda e do jornalista Leandro Demori, do The Intercept.

No mês seguinte, em 6 de julho de 2019, foram feitas três consultas no FirstMile usando celulares vinculados a Wyllys e Miranda. Wyllys afirmou que era considerado um “inimigo político” pelo governo Bolsonaro.

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