“Soros financia o PSOL”: Ciro apela para teoria conspiratória antissemita da extrema-direita

Atualizado em 21 de setembro de 2022 às 23:16
Ciro Gomes

Ciro Gomes virou uma espécie de Tiririca do mal da política brasileira, só que sem voto e de sinal trocado: pior do que está, fica.

Na sabatina do Estadão, em que distribuiu patadas nos entrevistadores, em Caetano e Tico Santa Cruz, nas mulheres que queriam falar de aborto, Ciro trouxe uma velha teoria da conspiração antissemita, clássica da extrema-direita.

Segundo o pedetista, “o PSOL é financiado por George Soros”. 

A sigla é quase integralmente financiada pelo fundo partidário e o presidente Juliano Medeiros já anunciou que processará Ciro. 

Mas essa cascata vem de muito longe. Foi amplamente difundida nos EUA pelos degenerados adeptos do QAnon, que creem numa cabala secreta formada por adoradores de Satanás, pedófilos e canibais, que dirigem uma rede global de tráfico sexual infantil. Soros é o inimigo número 1 deles.

O bilionário húngaro de origem judaica, cuja organização filantrópica Open Society apoia fundações em mais de cem países ao redor do mundo, pode ser criticado por quem quiser, obviamente — desde que o debate se dê em torno de fatos e não de mistificações e generalizações picaretas.

(De acordo com os débeis mentais do PCO, por exemplo, o DCM tem grana do Soros. Alô, alô, George!). 

Soros foi apontado pela turma boa de Donald Trump como o patrocinador dos Antifas, do Black Lives Matter, da imigração ilegal, da vitória de Biden “roubada” — de tudo com que essa gente não concorda, enfim. Rudy Giuliani, advogado do ex-presidente dos EUA, o chamou de “Anticristo”.

É alvo frequente de Tucker Carlson, âncora da Fox News que acredita em supremacia branca e esteve no Brasil defendendo Bolsonaro. 

“Ao contrário das ameaças dos soviéticos e do império otomano, a ameaça representada por George Soros e suas organizações sem fins lucrativos é muito mais sutil e difícil de detectar”, diz Carlson. Soros conspirou para “destituir líderes democraticamente eleitos” e “instalar fantoches ideologicamente alinhados”.

Para Olavo de Carvalho, “o maior financiador da campanha pela liberação das drogas é George Soros, que também subsidia organizações pró-terroristas e desarmamentistas (uma combinação maravilhosa) e nutre a modesta ambição de tornar-se o presidente informal do mundo”.

“Já comprou terras na Bolívia, onde, uma vez retirados os entraves legais, terá tudo para ser o maior fornecedor de matéria-prima para as Farc”, escreveu.

Essa balela embute a velha tese antissemita de que os judeus controlam o mundo com seu dinheiro. É o “judeu internacional” — nome do livro de Henry Ford publicado em 1920, fundamental para a formação do nazismo.

Desde o final do século 18, eles são tratados como bode expiatórios da raiva populista mais ignóbil, responsabilizados por ansiedades culturais sobre o capitalismo, a industrialização e uma paisagem social diversificada. Hitler não foi um acidente. 

Ciro está em boa companhia na lata do lixo para onde foi parar. Culpa do PT, claro.