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Suplicy, Haddad e a imolação voluntária na Livraria Cultura. Por Kiko Nogueira

A âncora da CBN Fabíola Cidral com Fernando Haddad

 

Cada vez fica mais evidente o que você suspeitava: o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, caiu numa cilada ao concordar em participar de uma “sabatina” promovida pela rádio CBN num anfiteatro da Livraria Cultura.

Fazia sentido? Meia hora de CBN é mais do que suficiente para conhecer o perfil de indignação seletiva. Fabíola Cidral, âncora do noticiário local, com sua simploriedade, vive de bater em qualquer medida da gestão Haddad.

O perfil dos ouvintes é o mesmo da Jovem Pan. Esse pessoal está realmente disposto a dialogar? Quem vai ser convencido? Faz sentido dar audiência? (Ambas, aliás, contam com campanhas publicitárias regulares da prefeitura).

A Cultura, por sua vez, há muito virou point do idiota útil de extrema direita. Todo lançamento de autor neo-olaviano atrai uma multidão. Sergio Moro foi ovacionado ali. O fundador, Pedro Herz, insiste em dizer que não tem “posição política”.

Não houve uma mísera nota sobre as hostilidades a Eduardo Suplicy, chamado de “vergonha nacional”. Agora surge a informação de que o sócio diretor Fábio Herz assinou a petição fraudulenta pelo impeachmet no site change.org.

Suplicy, aliás, conseguiu apelar, na rede, para que “não se promova qualquer boicote à Cultura” e isentou também a CBN de responsabilidade. (Você quase compreende sua ex-mulher Marta. Quase). Suplicy não tem desculpa.

Numa entrevista à DW, o próprio Haddad disse que “não conta com a boa vontade das emissoras de rádio e TV em São Paulo. Todas militam contra as políticas da prefeitura por razões ideológicas, na minha opinião. Eu acho que é da democracia, mas isso retarda o processo de civilizar a cidade porque essas emissoras jogam contra essa modernização”.

Ainda: “Foram contra todas as medidas que eu tomei, as mais óbvias no mundo sofreram resistência aqui. Não é só uma questão de comunicação, não tem um ambiente favorável ao debate franco. Você tem um pelotão que 24 horas por dia está nas rádios militando contra as medidas de modernização”.

Você já tentou dialogar com um pelotão desses?

Democracia e “republicanismo” não são sinônimos de imolação em praça pública — nem que seja por livre e espontânea vontade. Isso tem outro nome e vamos fazer de conta que Suplicy não sabe qual é.

 

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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