Suspensão do pagamento de emendas causa rebuliço e vira piada nos corredores da Câmara; entenda

Atualizado em 20 de novembro de 2021 às 18:07
Jair Bolsonaro, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira
Jair Bolsonaro, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira – Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

A Folha traz neste sábado em seu Editorial importante análise sobre o toma lá dá cá bolsonarista no Congresso. Usa expressões como surdina e detalha a esculhambação em que se transformou o Brasil nos três anos de governo Bolsonaro.

Tanta bagunça acaba virando prato cheio para a circulação de informações que vão entrando para o imaginário de quem frequenta o Congresso. Uma delas, das mais concorridas neste momento, virou motivo de chacota, mesmo que ninguém tenha um mísero xerox para comprovar: diz sobre parlamentares que receberam comissão adiantada por emendas agora represadas por decisão do Supremo Tribunal Federal.

LEIA mais: 

1. Com suspensão de Orçamento Secreto, como ficam as emendas já reservadas?

2. Lula retorna da Europa como principal liderança popular do Planeta, diz Aloizio Mercadante

3. Curiosidades da estranha pesquisa que turbina votação de Moro

Seja como for, a Folha sintetiza bem toda essa conjuntura de caos: fala que entre os parlamentares brasileiros “a preocupação com os mais pobres, engolfados por desemprego e inflação, torna-se mero pretexto para assaltos diversos ao pagador de impostos”.

Leia texto na íntegra:

Emendas parlamentares negociadas na surdina, fundo eleitoral bilionário sob o comando de oligarcas partidários, subsídio a caminhoneiros, parcelamento de dívidas previdenciárias de prefeituras com a União e aumento de salário para todo o funcionalismo federal.

As verdadeiras intenções de políticos que governam o país e comandam o Legislativo com a chamada PEC do Calote jorram do noticiário nos últimos dias. A preocupação com os mais pobres, engolfados por desemprego e inflação, torna-se mero pretexto para assaltos diversos ao pagador de impostos.

Desprezo pelos miseráveis

O desprezo pelos miseráveis foi tamanho que a confusão implodiu o Bolsa Família —um programa bem concebido, exitoso e permanente— e colocou no lugar um auxílio de 12 meses, mal desenhado, que reflete a compreensão ginasiana e enviesada da gestão Bolsonaro sobre a questão social no Brasil.

Linhas de aperfeiçoamento e expansão do Bolsa Família vinham sendo debatidas há tempos entre técnicos reputados. Propunha-se a redução de políticas deficientes a fim de ampliar o valor e o alcance das transferências aos mais necessitados. A pobreza na infância, terrivelmente desproporcional, também deveria ser mais combatida.

O esforço para aprovar modificações nesse sentido, que em nenhuma hipótese comprometeriam as regras de prudência fiscal nem a obrigação de honrar decisões judiciais inapeláveis, seria bem menor do que o vórtice de alterações constitucionais em que estão metidos os congressistas neste momento.

Brasília exibe hoje o retrato a ser estudado em sala de aula do que acontece num país sem governo. Neste sistema presidencialista, se o chefe do Executivo abre mão de coordenar sua administração e a agenda legislativa em nome dos interesses difusos e coletivos, a lógica fragmentada e particular dos parlamentares toma o lugar, ofuscando as perspectivas de prosperidade.

Jair Bolsonaro, em vez de portar-se como o cargo exige, tornou-se o lobista-mor da República. Partiu dele, para surpresa de ninguém, a ideia estapafúrdia de conceder aumento geral ao funcionalismo, o que nem as trampolinagens da PEC do Calote dariam conta de custear.

O saldo dessa situação em que o presidente não se distingue de outros predadores do Orçamento está sendo precificado a cada dia nos indicadores sobre o futuro. O país vai crescer, empregar e arrecadar menos, e desaparecerá do horizonte dos mais pobres a garantia de uma renda mínima duradoura.

Destruída a governança, o que está ao alcance da política responsável agora são apenas reduções de dano, como a que o Senado ainda poderá fazer se viabilizar apenas e tão somente o socorro aos mais vulneráveis. Nada mais que isso.

Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link.

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link.