‘Temos que considerar os interesses dos suíços na Odebrecht’, disse Dallagnol a procuradores

Atualizado em 22 de fevereiro de 2021 às 18:24
Deltan Dallagnol: junto com suíços e norte-americanos para condenar e multar empresa brasileira no estrangeiro (crédito: MPF-PR)

O procurador Deltan Dallagnol, que chefiava a Operação Lava Jato, orientou seus comandados “a tomar em consideração os interesses (e sentimentos) dos suíços”, referindo-se a autoridades de investigação estrangeiras com quem o MPF-PR (Ministério Público Federal no Paraná) trabalhava em parceria para condenar a empresa brasileira Odebrecht, tanto em cortes estrangeiras como nacionais.

É o que mostram os diálogos protocolados nesta quarta-feira (17) pela Defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no STF. Todas as conversas a que os advogados do petista tiveram acesso advêm da Polícia Federal, trata-se de material periciado pela Operação Spoofing, ao qual o MPF-PR teve acesso antes do que a Defesa do ex-presidente.

De acordo com este material, no dia 19 de abril de 2016, Deltan Dallagnol enviou ao grupo de WhatsApp dos procuradores da Lava Jato uma série de demandas que recebeu de autoridades suíças interessadas em processar e multar a empresa brasileira naquele país. A “colaboração” se deu de forma ilegal, e sem o acompanhamento e a autorização das autoridades devidas segundo a lei brasileira.

Como se vê, Dallagnol repassou as demandas estrangeiras na íntegra e em inglês, conforme recebeu dos suíços. Entre as solicitações está a de que a empresa alterasse a sua equipe de advogados na Suíça, caso quisesse obter algum tipo de acordo.

Ainda no mesmo diálogo, o chefe da Lava Jato menciona os interesses e a “colaboração informal” com autoridades dos Estados Unidos, que também buscavam condenar e multar a empresa brasileira. Nesse caso, Dallagnol propõe uma estratégia de “pressão conjunta” para a assinatura de acordos e autuações lá e aqui.

19 APR 16

• 14:36:16 Deltan Caros, como os Suíços foram essenciais na evolução do caso da Ode, temos de tomar em consideração os interesses (e sentimentos) deles nessa negociação, para idealmente alcançar algo com
que eles concordem (ou pelo menos não se oponham). Não sei se conversaram sobre isso, mas seguem alguns pontos colocados pelo Stephan, que peço para mantermos de modo confidencial:

• 14:36:41 (desculpem se Orlando já falou com Vcs sobre isso e estiver chovendo no molhado):

• 14:36:42 Some important points from our side: · Emilio and most of the directors have accounts in Switzerland and are with their accounts directly involved in the illegal scheme · We are with the information gathered –
especially also with the information from FM – meanwhile in a very strong position against the company. So please don’t make it too easy for them · A big portion of the money gathered in the parallel accountability was paid in USD to doleiros and paid back in R$ to money deliverers in Brasil and used for ODE payments within Brazil. ODE should help also to identifiy the doleiros involved (or have you already identified them?). Those doleiros would be interesting for us as far as they held accounts in Switzerland. · It would help a lot when ODE agrees to share also the evidence we have with you · It ODE is interested in having direct negotiations with us we would strongly advice to also change their defense team in Switzerland

• 16:22:12 Caros, além disso, para conhecimento e reflexão: os Americanos também estão atuando no caso Ode e gostariam de encontrar uma solução conjunta. Ode quer fazer algo rápido lá, mas eles têm nos consultado e
temos sugerido que a pressão é maior se todos agirmos e só fizermos acordo conjuntamente….

Crédito: STF
Crédito: STF

Desde que o ministro do STF Ricardo Lewandowisk tornou públicos os autos referentes à perícia da Polícia Federal nos diálogos apreendidos com um hacker – entre procuradores e policiais da Lava Jato e, em muitos casos, com a participação do ex-juiz Sergio Moro -, uma série de novas revelações sobre o modo de agir da Lava Jato tem vindo à tona.

Em uma delas, por exemplo, os procuradores comemoram o fato de o ex-juiz ter concedido mandados de busca e apreensão no processo do triplex antes mesmo que a Lava Jato tenha pedido. Em outra, Moro e Dallagnol conversam sobre manter um investigado preso por mais tempo para força-lo a assinar um acordo de delação premiada.

Veja aqui o material completo protocolado nesta quarta-feira (17) pela defesa de Lula no STF.