Tensão: governo enfrentou resistência de militares para desmontar acampamento de golpistas no 8/1

Atualizado em 7 de janeiro de 2024 às 8:34
Ataque terrorista de 8 de janeiro em Brasília. Foto: Antonio Cascio/Reuters

Há um ano, o Brasil assistiu pela televisão quando uma multidão de apoiadores de Jair Bolsonaro invadiu e vandalizou as sedes dos Três Poderes em Brasília por serem contrários a eleição de Lula. Na noite de 8 de janeiro de 2023, o governo brasileiro se viu obrigado a negociar com generais do Exército para desmobilizar o acampamento onde os golpistas estavam concentrados.

As revelações feitas por autoridades em entrevistas para o documentário “8/1: A Democracia Resiste”, produzido pela GloboNews e conduzido pelos jornalistas Julia Duailibi e Rafael Norton. Após os ataques, Ricardo Cappelli, o segundo no Ministério da Justiça e recém-designado interventor na Segurança Pública do Distrito Federal, recebeu ordens para entrar no acampamento dos golpistas, localizado em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, e realizar prisões em flagrante.

No entanto, o processo não foi simples. Cappelli confrontou o general Gustavo Henrique Dutra, que não queria a entrada da Polícia Militar no local pelo “alto grau de risco” da missão. Dutra temia que a operação pudesse resultar em violência, e o impasse levou as tropas da Polícia do Exército e da Polícia Militar a se posicionarem frente a frente próximo ao quartel.

Flavio Dino segura replica da Constituição que foi roubada do STF em 8 de janeiro. Foto: Reprodução

“Eu chego na altura em que o Cappelli havia me dito que a PM estava. Quando me viro, vejo a polícia do Exército em formação, duas ou três linhas, mas não de frente para o acampamento, de frente para a PM. E eu vi também uns blindados do Exército se locomovendo, saindo de vias e se agrupando ali com soldados aparatados como se fossem para um combate”, relembrou Flavio Dino, na época Ministro da Justiça.

Antes daen chegada de Dino e outros ministros, o tão comandante do Exército, Júlio César Arruda, solicitou uma conversa com Cappelli. Durante o encontro, Arruda questionou Cappelli, na presença de outros generais do Alto Comando do Exército, sobre a possível entrada com homens armados sem sua autorização.

Cappelli respondeu que tinha ordens para cumprir, mas Arruda afirmou que estava em vantagem naquele momento: “Porque eu acho que eu tenho um pouquinho mais de homens armados do que o senhor, coronel Fábio Augusto.”

Diante do impasse, Cappelli tentou argumentar sobre a necessidade de desmontar o acampamento e efetuar prisões: “Eu fiz a afirmação e falei para ele: ‘O senhor concorda, general?’. E ele falou: ‘Não'”.

O desfecho ocorreu após a chegada dos ministros Flávio Dino (Justiça), José Múcio Monteiro (Defesa) e Rui Costa (Casa Civil) em Brasília. Todos eles haviam sido enviados pelo presidente Lula. “Nós fomos conduzidos para uma sala em que estavam vários militares. E aí eu digo ao comandante: ‘Comandante, nós vamos cumprir o que a lei manda’. E ele diz: ‘Não, não vão'”, afirmou Flávio Dino.

Horas depois, após um longo debate, o acampamento com golpistas foram desmontados na manhã do dia 9 de janeiro. A Polícia Militar do Distrito Federal e o Exército realizaram a operação que culminou na prisão, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, de 1.200 pessoas.

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