Teremos o primeiro delator militar? Por Moisés Mendes

Atualizado em 30 de agosto de 2023 às 7:01
Tenente-coronel Mauro Cid. (Foto: Reprodução)

A luta contra a ditadura teve bravos militares como militantes da democracia. Mais de 6 mil deles foram perseguidos, presos e expulsos dos quarteis e pelo menos 30 desapareceram ou foram assassinados.

Mas no meio militar nunca surgiu entre os que estavam do outro lado, colaborando com o golpe e o regime, os que se dispusessem a delatar o que sabiam da perseguição a civis e mesmo a fardados.

Muitos dos que se empenharam no resgate da normalidade acreditavam que em algum momento os delatores militares poderiam aparecer, para denunciar, por exemplo, torturas e outras atrocidades com provas e detalhes. Era improvável.

O que tivemos foram delatores colaboracionistas do governo entre fardados e cidadãos comuns, que apontavam inimigos dos militares entre conhecidos, vizinhos, parentes, colegas de trabalho.

Mauro Cid, o coronel ajudante de ordens de Bolsonaro, poderá ser o primeiro delator graduado, ainda como oficial da ativa do Exército, a exercer o direito da delação, amparado em lei e sob a proteção do sistema de Justiça. Pelo menos em tempo de aparente normalidade.

É o que se anuncia agora. Que o coronel estaria exausto e disposto a colaborar com as investigações. Tanto que já teria caminhado nessa direção em interrogatórios à Polícia Federal.

Mas o que o coronel pode contar que esclareça fatos em que esteve envolvido? Mauro Cid vai falar dos crimes com as joias das arábias? Vai dizer o que fez a mando de Bolsonaro para tentar preservar as joias as que seriam da família, mas não deveriam ser?

O que Mauro Cid poderá dizer do que sabe do plano do golpe? O coronel terá de ser um delator por inteiro, que conte o que sabe das muambas, do golpe e das fraudes nos cartões de vacinação.

É uma tarefa vasta. Cid foi preso por envolvimento na fraude nos cartões de vacina, e a partir daí a Polícia Federal chegou, com o acesso ao seu celular, às conversas sobre as joias e sobre o golpe.

Mauro Cid e Jair Bolsonaro. (Foto: Reprodução)

O coronel é até agora o mais completo personagem do bolsonarismo sob investigação, porque atuou em três frentes, todas com provas de envolvimento em delitos graves.

Especula-se que a delação está em negociação na Polícia e se sabe que a CPI do Golpe está preparada para propor o mesmo, sabendo-se que tudo depende do aval do Ministério Público.

Se Mauro Cid decidir falar, pode estar sendo aberta a porteira para que outros falem. É a hora de somar e subtrair, para saber o que ele ganha ou perde com a delação.

O que se sabe, com certeza, é teremos, se o coronel virar delator de fato, estragos jamais vistos decorrentes desse tipo de atitude. Mas a delação terá de ser para valer.

Originalmente publicado no Blog do Moisés Mendes

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