Todos os 15 prefeitos presos no esquema do “Mensalão do Lixo” em SC são bolsonaristas; veja lista

Atualizado em 28 de abril de 2023 às 21:58
Policiais catarinenses chegam à Prefeitura de Schroeder (SC), para levar preso o prefeito Felipe Voigt (MDB)

Com as prisões realizadas pela Polícia Civil de Santa Catarina e Pelo Ministério Público do Estado (MP-SC) na última quinta-feira (27), já são 15 os prefeitos catarinenses presos por suposto envolvimento em uma esquema de corrupção e propina que está sendo chamado de “Mensalão do Lixo de SC” e está sendo combatido pela Operação Mensageiro, da promotoria estadual.

Um detalhe chama a atenção: 100% dos mandatários sob custódia da Justiça criminal são apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ). É o que mostra levantamento feito pelo DCM, com base em fotos de campanha, declarações públicas, documentos eleitorais, postagens em redes sociais, entrevistas com aliados e filiação partidária dos políticos detidos.

Segundo as investigações comandadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco, do MP-SC), uma empresa catarinense seria a responsável por pagar propina para agentes públicos no estado para obter favorecimento em licitações e concorrências em diferentes municípios, a maioria delas ligada aos serviços de limpeza, esgoto e coleta de lixo.

Confira a lista abaixo.

1 – Deyvison Souza (MDB), Pescaria Brava

Conhecido bolsonarista do município do litoral sul do estado, obteve a reeleição com mais de 70% dos votos válidos, superando o único concorrente, Everaldo dos Santos (PDT) que representava a forças progressistas da cidade. Fez a campanha ao lado do então governador Carlos Moisés (PSL), que se elegeu com o slogan de “Comandante Moisés”, o único governador de Bolsonaro”.

A chapa de Souza era composta pelo MDB e pelo PP, legenda cujo diretório estadual registrou apoio irrestrito a Jair Bolsonaro nas duas eleições presidenciais que participou. Foi o PP o maior financiador da campanha de reeleição do prefeito.

2 – Luiz Henrique Saliba (PP), Papanduva

O ex-presidente Jair Bolsonaro e o prefeito de Papanduva (SC) Luiz Henrique Saliba (PP). Foto: Reprodução/Facebook

A cidade do norte catarinense de pouco mais de 18 mil habitantes reelegeu em 2020 o pepista Luiz Henrique Saliba com 69% dos votos. Seu vice-prefeito, João Jaime Ianskoski, assim que o titular foi preso, renunciou ao cargo, sem dar qualquer motivo.

Saliba é apoiador assumido de Jair Bolsonaro e tem em seu grupo de sustentação política na região o deputado estadual Sargento Lima (PL) e o líder evangélico Eliezer Pereira.

3 – Antônio Rodrigues (PP), Balneário Barra do Sul

No dia 7 de setembro de 2022, o prefeito de Barra do Sul, Antônio Rodrigues, promoveu “ações patrióticas e pelo Brasil” em toda a cidade (crédito: reprodução)

O empresário bolsonarista do PP foi eleito prefeito da cidade litorânea de 8,5 mil habitantes com 43,5% dos votos e campanha majoritariamente paga pelo PP. Por conta das investigações, Rodrigues está afastado da prefeitura desde o início de dezembro do ano passado.

Outro dos prefeitos corregilionários do ex-governador bolsonarista Carlos Moisés, o prefeito foi eleito com uma campanha calcada em sua fé em Deus e nos valores da família. Seu filho, o veador Jesersson Rodrigues (PP-SC), também foi preso na esteira das investigações.

4 – Antônio Ceron (PSD), Lages

Atualmente em prisão domiciliar, o prefeito reeleito da cidade de 157 mil habitantes do centro-sul do estado é um veterano da política catarinense. Uma das maiores vozes do conservadorismo em sua região, já foi eleito  deputado estadual por quatro mandatos, sempre por partidos da direita, além de ter ocupado o cargo de secretário da Casa Civil do ex-governador Raimundo Colombo (PSD) e de Desenvolvimento de Espiridião Amin (PP).

Em 2022, ele lutou para que a direita catarinense se unisse para poder enfrentar o candidato petista, Décio Lima, com o apoio irrestrito do então presidente Jair Bolsonaro.

5 – Vicente Corrêa Costa (PL), Capivari de Baixo

O prefeito Vicente Corrêa Costa, do PL: defesa da pátria e da família e preso por corrupção (crédito: reprodução/Facebook)

O médico pediatra se elegeu prefeito da cidade de 22 mil habitantes do nordeste do estado pelo PSD, mas migrou para o PL na onda de políticos bolsonaristas que foi dar no partido com a ida do então presidente da República para a legenda.

Suas bandeiras são Família, Jesus e patriotismo. Em seu mandato, antes de ser preso, encampou projeto para que todas as escolas do município promovossem o hasteamento da bandeiro a execução do hino nacional todos os dias antes do início do período letivo.

6 – Marlon Neuber (PL), de Itapoá

Marlon Neuber foi eleito prefeito com o adesivo de Bolsonaro no peito e o governador Jorginho Mello nos braços (crédito: reprodução)

O prefeito reeleito da cidade do litoral norte do estado foi preso depois que a Polícia, cumprindo mandado de busca e apreensão, encontrou mais de R$ 180 mil em dinheiro vivo na casa do mandatário, valor que seria proveniente de propinas pagas por uma empreiteira.

Sua campanha eleitoral e seu discurso político são de apoio a Jair Bolsonaro e contrário aos partidos de esquerda, em especial o PT e seus líderes nacionais, especificamente o presidente Luinz Inácio Lula da Silva.

7 – Joares Ponticelli (PP), Tubarão

Veterano político conservador catarinense, o mandatário do município de 105 mil habitantes do sudeste do estado foi um dos articuladores da tentativa (frustrada) de levar Jair Bolsonaro ao PP, em 2021.

Nem por isso deixou de ser apoiador de primeira hora do ex-presidente até os dias atuais. Nos últimos dois anos, travou a luta política para que PP e PL enfrentassem unidos as eleições catarinenses do ano passado, no que foi bem sucedido.

8 – Luiz Carlos Tamanini (MDB), Corupá

O prefeito da cidade de 15,3 mil habitantes do norte catarinense lançou-se candidato em 2020 como a força bolsonarista do município. Seu maior doador de campanha foi o empresário Paulo Cesar Chiodini, filiado ao PP e outra das lideranças bolsonaristas em Corupá.

O empresário Paulo Cesar Chiodini, financiador da campanha do prefeito de Corupá (crédito: reprodução)

O prefeito preso foi um dos articuladores e presentes no evento de apoio ao projeto do Partido Liberal (PL) em sua região em outubro de 2022, durante campanha eleitoral. No ato, políticos de diversos partidos – incluindo o prefeito Tamanini – se manifestaram a favor da candidatura de Jorginho Mello e Bolsonaro.

9 – Armindo Sesar Tassi (MDB), Massaranduba;

Prefeito de Massaranduba, Sesar Tassi: “Dia 30 de outubro é Jorginho Mello Governador e Bolsonaro Presidente” (crédito: reprodução)

Em Massaranduba, município do nordeste catarinense de 15 mil habitantes, o nome de Sesar Tassi é sinônimo de bolsonarismo. Em 2020, aliou sua campanha à figura do então candidato bolsonarista a governador, Jorginho Mello, e nesta toada foi até o final, até a cadeia, onde se encontra.

Sua agenda social inclui nomes como o empresário e apresentador de TV Ratinho e o deputado federal bolsonarista Carlos Chiodini (MDB), coincidentemente parente do empresário Paulo Cesar Chiodini, o financiador da campanha do outro prefeito preso, o de Massaranduba.

Sesar Tassi, de óculos, à esquerda: a cara do bolsonarismo em Massaranduba (crédito: reprodução)

10 – Adriano Poffo (MDB), Ibirama

O prefeito Adriano Poffo (MDB), de Ibirama (sorrindo), junto do ex-presidente Jair Bolsonaro (crédito: reprodução)

Ibirama, na região central de Santa Catarina, tem 20 mil habitantes e um prefeito orgulhosamente bolsonarista. Ele costuma ilustrar suas redes sociais com mensagens patrióticas e de apoio a Jair Bolsonaro.

Foi preso suspeito de fraude em licitação, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro no setor de coleta e destinação de lixo.

11 – Adilson Lisczkovski (Patriota), Major Vieira

Prefeito Lisczkovski pediu licença um dia antes de ser preso (crédito: Câmara dos vereadores de Major Vieira)

O patriota Adilson Lisczkovski, prefeito do município de 8 mil habitantes de Major Vieira, no norte de Santa Catarina, foi precavido. Pressentindo que algo não estava bem após a prisão de uma série de prefeitos seus aliados, pediu licença do cargo um dia antes da polícia bater em sua porta.

Seu partido, o Patriota, foi o único a injetar dinheiro em sua campanha, pouco menos de R$ 8 mil. Compõe o grupo político local liderado pelo deputado federal Coronel Armando (PL-SC), vice-líder do governo federal na Câmara em 2019 e 2020.

12 – Patrick Corrêa (Republicanos), Imaruí

O prefeito Patrick Corrêa (esq), em imagem da campanha eleitoral de 2020 (crédito: reprodução)

Seja na sua última eleição ou em toda a carreira, o prefeito Patrick sempre encampou as teses conservadoras e em defesa da família e da pátria. Em 2020, venceu a disputa pelo PSL e o número 17, do então presidente Bolsonaro. Depois que o ex-capitão deixou a legenda, ele fez o mesmo, migrando para o Republicanos, da Igreja Universal.

O município que preside, de 10 mil habitantes e localizado no sudeste do estado, é vítima de uma suposta articulação criminosa para facilitar a vitória de uma empresa que teria pago propina ao prefeito para controlar as atividades de varreção e coleta de lixo na cidade.

13 – Luiz Divonsir Shimoguiri (PSD), Três Barras

O prefeito Luiz Shimoguiri: caiu no grampo da polícia falando com empresário que fez delação (crédito: reprodução)

Na última quinta-feira (27), o prefeito Luiz Shimoguiri foi surpreendido por uma equipe da polícia adentrando seu gabinete para realizar um mandado de busca e apreensão, e conduzindo-o coercitivamente à delegacia (de onde foi solto condicionalmente), em uma cena que os 20 moradores de Três Barras, no norte de Santa Catarina, não estão acostumados a ver.

Eleito em 2020 em coligação com o PSL, então partido do ex-presidente Bolsonaro, o prefeito passou toda a campanha enaltecendo os valores da família e a luta contra a corrupção. Foi preso depois de cair no grampo da Polícia Civil, em conversas com o empresário Odair Mannrich, preso acusado de compor o esquema criminoso e que já assinou acordo de delação premiada prometendo devolver R$ 50 milhões aos cofres públicos.

14 – Alfredo Cezar Dreher (Podemos), Bela Vista do Toldo

(crédito: reprodução)

Os pouco mais de 6 mil habitantes do município de Bela Vista do Toldo, no norte de Santa Catarina, se acostumaram a ouvir, nas eleições municipais de 2020, que Cezar Dreher (então no PSL, o 17), candidato a vice-prefeito, e Adelmo Alberti (PSL), que encabeçava a chapa, eram os candidatos de Bolsonaro na cidade.

E os dois não fizeram por menos: caminharam pela cidade enrolados em bandeiras do Brasil e bradando contra a corrupção. Depois, anos depois, o ex-titular renunciou ao cargo ao ser preso, em maio de 2022. O vice, que assumiu na sequência, foi preso na última quinta-feira, no decorrer da mesma investigação.

15 – Felipe Voigt (MDB), Schroeder

O prefeito Felipe Voigt (MDB), de Schroeder, situado no nordeste catarinense e com 15,5 mil habitantes, se elegeu tendo como maior cabo eleitoral o deputado federal bolsonarista Carlos Chiodini (MDB), o mesmo que apoia o também preso e bolsonarista Sesar Tassi, prefeito de Massaranduba.

Elegeu-se coligado com os Partidos PP e PSL, este último o do então presidente Bolsonaro, acusando seus adversários de serem partidários de políticos da esquerda corrupta. Seu principal doador de campanha foi o mesmo empresário Paulo Cesar Chiodini, filiado ao PP, uma das principais lideranças bolsonaristas na região e também o maior financiador da campanha do prefeito de Massaranduba.