Traição de Kajuru pode custar o impeachment de Bolsonaro. Por José Cássio

Atualizado em 12 de abril de 2021 às 8:53
O baixo clero mandou lembranças

Ok, há quem diga que foi combinado, já que em se tratando de Bolsonaro tudo é possível. Mas o certo é que quem tem aliados e combina um absurdo desses com Jorge Kajuru não precisa de inimigos.

O senador (Cidadania-GO), ao expor a gravação de um diálogo com Bolsonaro, cometeu não apenas um gesto patético – já que alega ter divulgado a conversa com objetivo de mostrar aos seus eleitores o prestígio que tem com o presidente: Kajuru foi desleal e seu gesto pode custar o mandato do presidente.

O áudio da conversa publicado pelo congressista nas suas redes sociais mostra Bolsonaro pedindo para ampliar a CPI da Covid e apurar a conduta de prefeitos e governadores.

“Se não mudar a amplitude, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, para fazer um relatório sacana. Tem que fazer do limão uma limonada. Por enquanto, é um limão que tá aí. Dá para ser uma limonada”, disse Bolsonaro ao senador.

“Querem investigar omissões do presidente Jair Bolsonaro, ponto final. Tem que botar também governadores e prefeitos. Presidente da república, governadores e prefeitos”, afirmou.

A CPI da Covid será instalada por ordem do ministro Luís Roberto Barroso (STF) ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (SEM-MG). A decisão sobre sua instalação será julgada na quarta-feira, 14, pelo plenário do Senado.

Entre outras barbaridades, que levaram órgãos do exterior a classificá-lo como genocida, Bolsonaro mandou o ministério da Saúde distribuir cloroquina, uma droga sem comprovação científica para o tratamento da covid, que levou muitos à morte, negou ações de prevenção, como uso de máscara e isolamento e, pior, boicotou até o limite a compra de imunizantes, defendendo o salve-se quem puder da ‘imunidade de rebanho’.

O diálogo revela o desejo explícito de Bolsonaro de pressionar o Supremo Tribunal Federal, sugerindo o pedido de impeachment de ministros, gesto considerado grave por juristas e parlamentares.

“Parece evidente que há uma conspiração contra o livre exercício do Poder Judiciário”, disse Kakay em nota exclusiva enviada ao DCM. “Impossível imaginar algo mais grave, se confirmado que a conversa é mesmo entre um senador da República e o presidente da República”.

Aliado de Bolsonaro, Kajuru reforçou a intenção de obstruir os trabalhos dos ministros do STF, lembrou que já pediu o impeachment de Alexandre de Moraes, e cobrou o presidente: “Eu só queria que o senhor desse crédito a mim nesse ponto”.

Bolsonaro não dá crédito nem às ex-mulheres, que dependem de esquemas públicos para pagar contas de condomínio, luz e água, vai dar para Kajuru?

Na abertura do vídeo em que expõe o diálogo, o senador se diz empregado do país e entrega: “Prestem a atenção o respeito que ele tem por mim, a forma como ele me tratou”, disse o ex-comentarista de futebol que virou político.

É o preço que Bolsonaro paga por ter entre seus aliados a fina flor do baixo clero, gente sem qualificação e destituída de princípios mínimos de lealdade e ética.

“A conversa é um fato gravíssimo”, comentou o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “A própria CPI poderá investigar o possível crime do Presidente da República”.

Bolsonaro e Kajuru são almas gêmeas.

Se merecem e seria positivo para a democracia se dessem as mãos e seguissem juntos para o lixo da história.