Tudo “institucional”: o dia em que recebi lobistas da Globo na política. Por José Cássio

Atualizado em 22 de dezembro de 2019 às 16:22
A esperança branca dos Marinhos

Eu trabalhava como jornalista na Câmara Municipal de São Paulo quando recebi um telefonema urgente da secretária do meu chefe.

– Sobe para o gabinete. Agora.

Não chegava a ser uma missão urgente, tampouco de grande relevância: na recepção, solicitando serem atendidos, dois representantes da TV Globo, ambos Diretores do setor de Relações Institucionais da emissora.

Logo foram chamando o parlamentar de deputado.

– É vereador, eu corrigi.

– Não estamos na Assembleia Legislativa?, perguntaram.

– Estamos na Câmara Municipal, local de trabalho dos 55 vereadores da cidade de São Paulo, explicamos.

Feitas as apresentações de praxe, troca de cartões e alguns minutos de conversa fiada sobre amenidades, despediram-se e foram embora.

Comentamos, meu chefe impressionado com a falta de noção dos sujeitos, que quando fossem bater na porta de outro gabinete pelo menos já sabiam onde estavam.

Agora leio numa nota na Veja que “gente graúda da Globo andou abordando caciques do Congresso para avaliar as chances de Luciano Huck na disputa presidencial de 2022”.

Não é possível cravar que se trata de lobby para forçar a candidatura do animador a presidente em 2022.

Tampouco se pode saber se essas tais “gente graúda” são do mesmo nível daqueles que se apresentaram como diretores, e eram mesmo, de Relações Institucionais nos gabinetes da Câmara.

O que é certo é que a Globo está atenta à possibilidade de Huck vir a ser candidato a presidência. E movimentando o seu pessoal para sentir a viabilidade do projeto. De repente cola, vai saber.

Mesmo que seja de forma atrapalhada e sem um norte definido, a Globo nunca dá ponto sem nó.