Tudo o que já se sabe sobre a espionagem ilegal da Abin de Bolsonaro

Atualizado em 26 de janeiro de 2024 às 8:12
Fachada do prédio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) — Foto: reprodução

Apurações recentes conduzidas pela Polícia Federal (PF) sugerem que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pode ter sido indevidamente utilizada para monitorar ilegalmente diversas autoridades e pessoas vinculadas a investigações, incluindo desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A suspeita recai sobre o período em que a Abin era liderada por Alexandre Ramagem (PL-RJ), atualmente deputado federal e aliado de Bolsonaro. Ramagem foi alvo de uma operação da PF na última quinta-feira (25), que investiga a possível utilização imprópria do software “First Mile” – uma ferramenta de geolocalização que permite rastrear as movimentações de indivíduos por meio de seus celulares.

A operação, denominada “Vigilância Aproximada”, teve autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que tornou pública a decisão. Na determinação, Moraes destacou que, sob a gestão de Alexandre Ramagem, policiais teriam realizado serviços de “contrainteligência ilícitos”.

A PF executou 21 mandados de busca e apreensão em endereços suspeitos em Brasília, Juiz de Fora, São João del Rei e Rio de Janeiro. Alexandre Ramagem foi o principal alvo da operação, com buscas realizadas em seu gabinete e no apartamento funcional da Câmara.

Bolsonaro e Alexandre Ramagem. Foto: reprodução

O que já se sabe sobre o caso?

Data da aquisição do programa: O programa que desencadeou a operação foi adquirido no final do governo Temer, sem licitação, por R$ 5,7 milhões.

Duração do uso: Segundo informações da Abin, o software foi utilizado por aproximadamente 18 meses, de dezembro de 2018 a maio de 2021.

Funcionamento do programa: O software “First Mile” coleta dados por meio da troca de informações entre celulares e antenas, permitindo a identificação do último local conhecido da pessoa portadora do aparelho.

Número de pessoas monitoradas: A ferramenta da Abin possibilitava o monitoramento de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses, sem seguir protocolo oficial. Estima-se que o sistema tenha sido acionado mais de 30 mil vezes, com cerca de 2 mil usos relacionados a políticos, jornalistas, advogados e opositores do governo Bolsonaro.

Quem eram os alvos? Entre os 30 mil acionamentos, os agentes detalharam cerca de 2 mil usos relacionados a políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo Jair Bolsonaro.

Já haviam surgido anteriormente, como alvos, os nomes do ex-deputado Jean Wyllys e de Hugo Loss, ex-chefe de fiscalização do Ibama, entre outros. Ontem, também vieram à tona ações que miraram os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o hoje ministro da Educação Camilo Santana, à época governador do Ceará, o ex-deputado Rodrigo Maia e a promotora Simone Sibilio, do MP-RJ.

O que falta esclarecer?

Outros alvos do monitoramento: Embora cerca de 2 mil casos tenham sido detalhados, há registros restantes que foram apagados, levantando dúvidas sobre quem mais foi monitorado e se outros adversários políticos de Bolsonaro foram alvo de outras formas de vigilância.

Currículo da promotora Simone Sibilio, do caso Marielle: Simone Sibilio ficou à frente das investigações entre 2017 e 2021. Os agentes da PF encontraram um currículo da promotora em um dos endereços de Ramagem. Ele afirmou que cabe aos investigadores entender por que o documento estava ali.

Blindagem de Jair Renan Bolsonaro: Ramagem defendeu que a Abin deveria proteger a família do ex-presidente, mas negou qualquer interferência em investigações relacionadas a parentes de Bolsonaro.

Bolsonaro e Alexandre Ramagem. Foto: reprodução

Autorização para o uso do First Mile: A PF investiga de quem foi a autorização para que o software fosse comprado e também quem ordenou que ele passasse a ser usado pela Abin. Também é preciso descobrir de quem foi a ordem para outras formas de monitoramento descobertas ao longo da investigação.

Papel da diretoria atual da Abin: Suspeita-se que a diretoria atual da Abin tenha dificultado a investigação sobre a espionagem ilegal, agindo em conluio com parte dos investigados. Os motivos desse comportamento ainda não foram esclarecidos.

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