Um dia após encontro golpista, ex-ministro da Defesa trocou o discurso na frente da Câmara

Atualizado em 12 de fevereiro de 2024 às 7:41
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa. Foto: Reprodução

Um dia após apoiar abertamente um discurso contrário ao sistema eleitoral durante uma reunião com a alta cúpula do governo Bolsonaro, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira adotou uma postura oposta ao participar de uma audiência pública na Câmara dos Deputados.

Em companhia de aliados próximos, ele criticava a participação das Forças Armadas em uma comissão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como uma “linha de contato com o inimigo”. Publicamente, o general afirmou que confiava no sistema de votação. Mais tarde, no Senado, ele compartilhou com os parlamentares que ficou “chateado” ao ler que estava atacando a democracia.

Na última sexta (9), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes levantou o sigilo do vídeo da reunião ministerial ocorrida em 5 de julho de 2022 no Palácio do Planalto. A gravação foi considerada uma peça fundamental para a operação Tempus Veritatis, desencadeada pela PF um dia antes contra Bolsonaro e membros de sua equipe.

Durante o encontro, discutiu-se uma “alternativa” a ser executada antes das eleições, caso o TSE não acatasse as sugestões do governo para as urnas eletrônicas. Naquela ocasião, Nogueira tomou a palavra e fez um longo pronunciamento em que explicou o papel das Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições (CTE), criada em 2021 pelo TSE, e criticou o tribunal.

Segundo a avaliação da Polícia Federal, conforme consta na decisão de Alexandre de Moraes que autorizou a operação, as declarações do general na reunião demonstram sua desconfiança em relação ao TSE e “reconhecem que a atuação das Forças Armadas para ‘garantir transparência, segurança, condições de auditoria’ nas eleições tinha o objetivo de reeleger o então presidente Jair Bolsonaro.

O ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

As declarações na reunião, no entanto, contrastam com o que o oficial afirmou apenas um dia após o encontro. Na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ele afirmou que as sugestões das Forças Armadas ao TSE tinham um “espírito colaborativo”.

Menos de dez dias depois, o ministro compareceu à Comissão de Transparência do Senado e manteve um tom conciliador, distante das manobras privadas entre os apoiadores de Bolsonaro.

“O que se ouve com frequência, o que me deixa bastante chateado, chateado como ministro, como membro das Forças Armadas, é ouvir, às vezes, ler: “ataque à democracia”. Como se estivéssemos atacando a democracia ao apresentar algo interessante para o sistema eleitoral brasileiro, que é esta parte técnica”, afirmou aos senadores.

Quanto à participação do general na reunião de 5 de julho, o Exército afirmou que Paulo Sérgio Nogueira está na reserva e que o Centro de Comunicação Social “não tem seu contato”.

Nas duas últimas semanas de agosto, o general teve duas reuniões com Moraes, o então recém-eleito presidente do TSE. Esses encontros foram vistos como uma tentativa de “pacificar” a relação entre as Forças Armadas e a Corte eleitoral.

Outro participante da reunião de julho já havia adotado uma estratégia semelhante. Enquanto ocupava o cargo de advogado-geral da União, Bruno Bianco se encontrou com Edson Fachin, antecessor de Moraes, em uma tentativa de acalmar as tensões. Interlocutores do Planalto na época afirmaram que essa tentativa foi apoiada pelo próprio Bolsonaro.

A visita de Bianco ao TSE ocorreu 17 dias após a reunião ministerial investigada pela PF e apenas dois dias após o ex-presidente fazer uma série de ataques infundados em um encontro com embaixadores.

Enquanto seus aliados suavizavam o discurso, Bolsonaro intensificou o discurso contra o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, discurso que levou à sua inelegibilidade por oito anos.

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