Um herói olímpico britânico absolutamente peculiar

Atualizado em 5 de agosto de 2012 às 13:31
Mo agradece a Alá o ouro

 

Ele é negro. Ele é imigrante. Ele é africano.

E além do mais: ele é muçulmano praticante.

Mo Farah, 25 anos, teria todos os motivos para ser desprezado pelos britânicos. Mas ele é hoje um dos maiores ídolos esportivos da Grã Bretanha.

Mo ganhou ontem uma medalha de ouro inédita na história olímpica britânica: a dos 10 000 metros, diante de 80 000 pessoas que torciam por ele freneticamente no Estádio Olímpico de Londres.

Mo é o diminutivo de Mohamed – Maomé, em português. Dificilmente ele faria uma carreira tão cheia de conquistas – ele ganhou muitas provas importantes e chegou às Olimpíadas como um dos favoritos para os 10 000 e os 5 000 metros – se o Mohamed do nome tivesse sido mantido. A rejeição aos muçulmanos que grassa na Europa e nos Estados Unidos – a islamofobia – teria inviabilizado as chances de um Mohamed decolar no atletismo.

Farah tem dupla nacionalidade. Ele nasceu na Somália, um país consumido há anos por uma guerra civil interminável. Aos nove anos, fugiu do caos miserável e sangrento da Somália e veio para a Inglaterra, onde morava seu pai. Acabou ganhando, depois, a cidadania inglesa.

Farah queria mesmo era jogar futebol, na adolescência. Mas seu professor de educação física viu que ele tinha talento mesmo era para o atletismo.

O professor fez o seguinte: dava a ele meia hora para se divertir no futebol e depois era tempo de treinar atletismo. Garoto ainda ele começou a participar de competições, e logo ficou claro que ali estava um corredor de muito futuro. Na quarta-feira, ele tem uma chance real de ganhar um segundo ouro, nos 5 000 metros.

Farah mora hoje em Portland, nos Estados Unidos. Segundo ele, lá as condições de treinamento são superiores. Ele afirma que a coisa britânica que mais lhe faz falta, nos Estados Unidos, é o seu time, o Arsenal.

Sua mulher, grávida de oito meses e meio de gêmeos, acompanhou a conquista do ouro no Estádio Olímpico. Deram a ele, terminada a corrida, uma bandeira britânica. Em outras ocasiões, ele se cobriu também com a bandeira da Somália. Mas o Comitê Olímpico Internacional proíbe que os atletas celebrem triunfos com outra bandeira que não seja a do país que representam. Ele também se ajoelhou e ficou na tradicional posição de agradecimento a Alá.

A maior vitória que Mo – de Mohammed – Farah pode conseguir vai muito além das pistas. Seu prestígio talvez leve os britânicos a ver com menos preconceito outros muçulmanos iguaizinhos a Mo – apenas sem medalha de ouro.