UNICEF: “Em choque, crianças de Gaza têm transtornos de ansiedade, recusam-se a comer e não falam”

Atualizado em 4 de fevereiro de 2024 às 12:54
Amal, de 7 anos, flagrada observando a destruição de seu bairro na Palestina. Foto: UNICEF

Quase um milhão de crianças palestinas estão sem nenhum apoio psicológico em meio à morte dos pais, familiares e amigos, destruição de escolas e hospitais, falta de comida e água, segundo o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 

“Muitas crianças têm transtornos de ansiedade, transtornos de sono, recusam-se a comer. Encontrei diversas crianças que ainda estavam em estado de choque, que não falavam, que não conseguiam sequer dizer o próprio nome”, relata Jonathan Crickx, diretor de comunicação da UNICEF para a Palestina, ao canal de televisão France 24.

“Qualquer lugar para o qual se olha em Gaza se veem barracas improvisadas. As famílias nessas tendas vivem com muito pouca água e pouca comida”.

“Todas as crianças que encontrei tinham a história de perda de um amigo, de um membro da família, às vezes dos pais. Eu encontrei algumas dessas crianças, desacompanhadas, separadas de seus pais, uma das situações mais vulneráveis na Faixa de Gaza”. Segundo uma estimativa do UNICEF, 17.000 crianças estão sozinhas na Palestina.

“Geralmente é a família estendida que passa a tomar conta delas. Sabemos que deve haver muitas crianças sozinhas, principalmente no norte e no centro da Faixa de Gaza, onde há muito pouca ajuda humanitária que consegue chegar até elas, uma situação particularmente preocupante para elas”.

O representante da UNICEF esclarece que a necessidade de apoio psicológico já era flagrante em meio às escaladas de tensão dos últimos anos anteriores a essa guerra. “Estimava-se que 500 mil crianças precisavam de ajuda psicologica”. Um quadro que piorou. “Agora, a UNICEF estima que quase a totalidade das crianças precisam de uma ajuda mental, psicológica e de um apoio. Isso representa quase um milhão de crianças”.

“A UNICEF trabalha há meses para tentar fornecer essa ajuda psicológica. Fornecemos ajuda psicológica para 40 mil crianças, o que é pouco demais diante da amplitude da necessidade”, pondera.

“Em 2022, fornecemos ajuda psicológica a 100 mil crianças. Graças a essa ajuda, as crianças conseguem superar o trauma que vivenciaram, mas nem sempre”.

“Muitas crianças têm transtornos de ansiedade, sono, recusam-se a comer. Encontrei diversas crianças que ainda estavam em estado de choque, que não falavam, que não conseguiam sequer dizer o próprio nome. Então imagine a dificuldade de reagrupar essas crianças em choque com suas famílias estendidas.”

A situação de degradação em massa do sistema de saúde palestino reduz ainda mais as chances de um acompanhamento à multidão de crianças desassistidas. “13 hospitais em 36 estão funcionando parcialmente, o que é muito pouco. Eles estão sobrecarregados”, relata a autoridade onusiana à TV francesa.

“A única maneira para que a ajuda psicológica chegue às crianças é um cessar-fogo duradouro, um cessar-fogo que permita localizar essas crianças, reagrupá-las com suas famílias estendidas quando for possível e fornecer atividades recreativas, apoio psicológico ao maior número possível de crianças”, reivindica.

“Aproximadamente 300 prédios escolares foram danificados ou não podem ser utilizados, pois acolhem refugiados. Lembremos: 1,7 milhão de pessoas foram deslocadas na Faixa de Gaza, diante de uma população total de 2,2 milhões.”

“Só em Rafah, onde estive, são 1,3 milhão de pessoas que foram deslocadas vivendo em tendas ou abrigos.”

“O desafio de reconstrução e restabelecimento do sistema educativo e saúde são gigantescos”. A ONU classifica Gaza hoje como “inferno na Terra”, observa France 24.

O genocídio se completa: mortes em massa, a destruição da infraestrutura e da saúde mental da geração que sobrevive.