Universal chama Lula de ‘ex-presidiário’, mas esquece que Edir Macedo já foi para a cadeia

Atualizado em 10 de outubro de 2022 às 19:24
Edir Macedo preso

Um editorial publicado no jornal da Igreja Universal, distribuído gratuitamente aos fiéis pelo país, atacou Lula de maneira canalha e hipócrita.

“O ódio do candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva contra os cristãos é notório. O ex-presidiário não consegue conter a mágoa que sente das igrejas cristãs, por não conseguir o apoio delas para o seu projeto de retorno ao poder”, diz a edição de 4 de setembro.

“No mais recente discurso para seus minguados adoradores em São Paulo, ele defendeu o Estado laico, ou seja, com a igreja fora das decisões políticas do Estado”.

Lula passou uma temporada na cadeia, porém finge que não aprendeu o que é facção criminosa, mas vamos refrescar a memória do ex-presidiário e de quem já não lembra mais de um emblemático caso de atuação de uma facção criminosa”, prossegue a patacoada, fazendo referência ao mensalão e à Operação Lava-Jato.

Lula teve todas as condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal, como se sabe.

Em matéria de ex-presidiário, no entanto, os editores poderiam entrevistar o chefe da organização, Edir Macedo.

Em 24 de maio de 1992, ele foi em cana, acusado de charlatanismo, curandeirismo e estelionato. A história é contada no site oficial da IURD:

Naquele mesmo dia, um domingo à tarde, ele saía de um culto realizado em um templo da Universal em Santo Amaro, na zona sul da capital paulista. Dirigia acompanhado da esposa, Ester Bezerra, e da filha Viviane, na época com 17 anos, quando várias viaturas começaram a segui-lo e ordenar que parasse o carro. Obedecendo à ordem, o veículo foi cercado e policiais fortemente armados o renderam. Uma cena que mais parecia um sequestro do que uma prisão. “Foi uma cena terrível. O pastor Laprovita Vieira vinha no carro de trás e tentou evitar que o levassem. Até mostrou a carteira de deputado federal. Os policiais empurraram a carteira, jogaram o meu marido dentro de um dos carros e saíram em alta velocidade”, conta Ester.

Sem nenhuma explicação, ele foi colocado em uma viatura e levado primeiro para o Departamento de Investigações Criminais de São Paulo (Deic), e em seguida para uma cela no 91º Distrito Policial, na Vila Leopoldina. (…)

A primeira semana se passou e membros da Universal iniciavam manifestações exigindo a libertação de seu líder. Obreiros, pastores e frequentadores da Igreja organizaram até vigílias na porta da delegacia, que chegou a ser “abraçada” pelos fiéis em oração (veja acima). Ao ver a indignação dos populares, a delegada de plantão, Sílvia Souza Cavalcanti, pediu ao bispo que gravasse uma mensagem para a rádio para acalmar os ânimos. (…)

Quando o bispo chegou à delegacia, já havia câmeras a postos, prontas para registrar o momento. No mesmo dia, as imagens apareceram em um famoso programa dominical. Outro momento estranho foi quando um padre assistiu a um dos interrogatórios, enquanto fazia anotações. “Em todos os meus depoimentos, nunca era permitida a entrada de ninguém, mas naquele dia havia um padre. E, ainda por cima, o juiz me fez uma pergunta pouco importante ao processo: queria saber se, com minha prisão, havia diminuído o número de pessoas na Igreja”, lembra. “Pelo contrário, excelência, aumentou mais ainda”, respondeu.

Edir Macedo é levado para a prisão pelos policiais

Enquanto isso, dois pedidos de habeas corpus já haviam sido negados e os advogados do bispo Macedo tentavam emplacar mais um. Uma verdadeira guerra judicial. No julgamento do terceiro pedido de habeas corpus, Thomaz Bastos, advogado de defesa, conseguiu desbancar a promotoria. Edir Macedo possuía bons antecedentes, família, residência fixa e nunca se recusou a prestar esclarecimentos sobre as acusações, então não havia necessidade de manter a prisão preventiva. Oargumento convenceu os desembargadores que, por 3 votos a 0, decidiram pela liberdade do bispo. (…)

No dia 3 de junho, uma quarta-feira, o bispo Edir Macedo foi solto. Mas, antes de sair, recolheu os seus pertences, cumprimentou os colegas de cela um a um e ordenou que pastores distribuíssem Bíblias para todos, inclusive funcionários. De cabeça erguida, foi da delegacia direto para o templo de onde havia saído no domingo da prisão. Era noite e a igreja estava lotada por fiéis, pastores e obreiros. O bispo subiu ao altar e fez um discurso falando o que vivera, rebateu acusações e testemunhou como a fé o havia sustentado em meio a tribulação.

Quinze anos depois do ocorrido, em depoimento para o livro “O Bispo”, ele refletiu sobre a razão de viver dias tão difíceis: “A prisão foi um marco em minha vida. Eu não entendi naquele momento, mas foi a minha válvula de escape. Muitos esperavam que eu deixasse a cadeia morto, mas aconteceu exatamente o contrário. É o que eu repeti o tempo todo e é em que acredito, está na Bíblia: tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus.