Vaticano obriga ex-bispo a devolver dinheiro que gastou em vida de luxo e subornos

Atualizado em 23 de agosto de 2020 às 8:22
Praça de São Pedro no Vaticano. Foto: Wikimedia Commons

Publicado no Instituto Humanitas Unisinos

Bransfield era o presidente da fundação papal fundada pelo ex-cardeal McCarrick, expulso do Colégio Cardinalício por Francisco depois de se comprovar que abusou sexualmente de várias pessoas durantes décadas.

O prelado realizava doações milionárias, com dinheiro da diocese, aos cardeais Dolan, Burke, Wuerl ou ao ex-núncio papal Carlo Maria Viganò, um dos mais destacados opositores do papa Francisco.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 21-08-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Michael J. Bransfield, ex-bispo de Wheeling-Charleston deposto pelo papa Francisco, deverá pedir desculpa pessoalmente aos seminaristas que o acusam de abuso, e terá que devolver quase meio milhão de dólares (441 mil) por desviar dos fundos diocesanos para gastos de luxo, como restaurantes, aviões privados e hotéis.

Assim se desprende da sanção emitida pela Congregação de Bispos, que investiga o antigo prelado, sobre o que pesa dupla acusação de abuso sexual e irregularidades financeiras. Bransfield, ademais de levar uma vida de luxo, enviava “presentes” em forma de milhares de dólares e bispos e cardeais para comprar cumplicidade. Bransfield era o presidente da fundação papal fundada pelo ex-cardeal McCarrick, expulso do Colégio Cardinalício por Francisco depois de se comprovar que abusou sexualmente de várias pessoas durante décadas.

Desculpas com matizes

Em um comunicado, o atual bispo, Mark E. Brennan, fez eco da decisão vaticana, ao mesmo tempo em que o site da diocese também publica uma desculpa de Bransfield, que pede perdão por “qualquer escândalo causado pelas palavras e ações que me atribuem”. Na nota, o ex-bispo admite que durante seu mandato “alguns gastos excessivos foram reembolsados” ainda que, matiza, “acreditava que eram adequados”.

O bispo emérito deverá, em primeiro lugar, “desculpar-se publicamente com o povo da diocese de Wheeling-Charleston pelo escândalo que criou”, e também “desculpar-se em privado com alguns indivíduos que o acusaram de abuso e assédio”.

Em segundo lugar, Bransfield “deve reembolsar à diocese de Wheeling-Charleston a soma de 441 mil dólares pelos benefícios não autorizados recebidos de recursos diocesanos”. Tais fundos “somar-se-ão aos já reservados da venda de sua antiga residência para a assistência às vítimas de abusos”.

Seguirá recebendo um salário mensal

O prelado receberá 2.250 dólares por mês como salário mensal, um terço do que se oferece a um bispo retirado. A quantidade foi “recomendada” pela Conferência de Bispos dos Estados Unidos, que também determinou que o bispo não receberá outros benefícios, como uma secretaria ou reembolso dos gastos de viagem.

A intervenção vaticana veio depois de uma investigação do The Washington Post, que falava de um desperdício que poderia superar os 2,4 milhões de dólares da diocese. O jornal também publicou as transferências que Bransfield fez, entre outros, aos cardeais Dolan, Burke, Wuerl ou ao ex-núncio papal Carlo Maria Viganò, um dos mais destacados opositores ao papa Francisco.